Aposentado reaproveita 'desperdício oficial'
Vizinho de um reservatório da empresa de abastecimento de Campinas, um agricultor aposentado aproveitou o endereço privilegiado para captar parte da água desperdiçada diariamente por causa de uma rachadura no local.
O sistema construído por Francisco Fausto Leite Alves, 80, inclui 18 metros de cano plástico, uma bomba de sucção e 30 metros de mangueira para jogar o líquido em uma caixa de mil litros.
Dos 86 mil litros que vazam todos os dias do reservatório, ele estima utilizar "apenas" 500 litros. "Dava pro quarteirão inteiro aproveitar", diz.
Para evitar estragos, o cano foi concretado ao meio-fio, e a mangueira, enterrada junto ao fio de eletricidade da bomba --que liga e desliga sozinha conforme a caixa esvazia.
"É mais para passar o tempo. Se ficar parado, enferruja", justifica Francisco, utiliza essa água para regar a horta e as plantas.
Para a Sanasa, o "gato" do aposentado não é ilegal. Ele não paga nada pelo líquido.
Apesar de a empresa considerar o desperdício "mínimo" (0,25% da capacidade da estrutura), o volume perdido poderia abastecer cem casas --uma rua inteira-- por dia.
"Estudamos colocar a água de novo no reservatório, mas ela não pode ser consumida", diz Marco Antônio dos Santos, diretor-técnico da Sanasa. Segundo ele, o vazamento só foi detectado em janeiro.
Vizinhos do reservatório contam outra versão.
"O vazamento existe há mais de 20 anos. Sempre foi assim, e é um absurdo", afirma Nádia Marques, 51, vizinha do aposentado. "A engenhoca do seu Francisco pelo menos aproveita um pouco da água que é desperdiçada."
Para consertar o vazamento, a Sanasa planeja construir outro reservatório com a mesma capacidade. Só assim será possível esvaziar o atual sem prejudicar o abastecimento da cidade.