Manifestação fecha todos os 29 terminais de ônibus de São Paulo
Motoristas e cobradores protestaram contra ataques a veículos, que aumentaram neste ano
Ato surpreendeu alguns passageiros; SPTrans diz que vai registrar queixa na polícia contra sindicato da categoria
Uma paralisação de motoristas e cobradores fechou todos os terminais de ônibus municipais de São Paulo, nesta quarta (5). O protesto, das 10h às 12h, afetou cerca de 1 milhão de passageiros, segundo a prefeitura.
O ato foi motivado pelo aumento dos ataques criminosos a ônibus. O estopim foi a morte do motorista John Brandão, 40, em 22 de outubro, após ter 70% do corpo queimado em um atentado.
Em 2014, 119 ônibus foram incendiados, mais que o dobro do ano passado: 53.
No terminal do Jardim Ângela (zona sul), passageiros se surpreenderam com o protesto. Alguns fotografavam os ônibus vazios para justificar atraso ou falta no trabalho.
"Ninguém sabia. Ninguém avisa nada", disse a dona de casa Neide do Carmo, 34, que estava com os dois filhos, um de 1 e outro de 7 anos.
"Eu precisava ir até a Vila Prudente [zona leste]. Agora tenho medo de ir e não conseguir voltar com meus filhos para casa."
O casal Marcos de Lima, 34, e Débora Lucas, 23, estava a caminho de uma clínica em Santo Amaro (zona sul). Grávida de 8 meses, ela faria exame de ultrassom. "A gente vai ter que pagar mesmo sem fazer o exame", lamentou o futuro pai.
Muitos passageiros recorreram aos veículos de cooperativas, que não aderiram à paralisação, para seguir viagem. Nos terminais, esses coletivos saiam lotados.
Entre os motoristas que cruzaram os braços estava Rodrigo de Bruno, 35, que disse ter sofrido um ataque de criminosos enquanto dirigia um ônibus da linha 637A, em julho passado.
"Achei que fosse assalto, mas eles tiraram um galão de gasolina da mochila", contou. "Na hora, a gente não sabe o que vai acontecer. A gente tem medo de morrer.".
MULTAS
"É uma manifestação pela vida, e não pelo patrimônio. A população precisa se conscientizar de que queimar ônibus não resolve nada. Virou moda. Queimar ônibus hoje é como queimar lixo", disse José Valdevan, presidente do sindicato dos motoristas.
A entidade afirmou que planeja novas manifestações e que elas podem ser mais longas que a desta quarta.
A SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) informou que registrará um boletim de ocorrência contra o sindicato da categoria por causa da paralisação.
"A reivindicação deles é justa, mas não precisa parar a cidade e prejudicar a população", disse Almir Chiarato, diretor de operações.
Chiarato afirmou ainda que a prefeitura vai aplicar multas às empresas de ônibus por todas as partidas que não forem cumpridas, com base nos registros dos GPS instalados nos coletivos.
O sindicato das viações disse que "apoia a causa", mas não a paralisação.