Professor é afastado após suposto racismo
Federal do ES suspende por 30 dias docente que disse preferir ser atendido por médico branco em vez de um negro
Ele pediu desculpas e disse ter sido mal interpretado; federal afirma querer preservar integridade do docente
A Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) decidiu afastar por 30 dias um professor suspeito de fazer declarações racistas durante uma aula na segunda-feira (3).
Além do comentário em sala, Manoel Luiz Malaguti Barcellos Pancinha deu entrevistas reafirmando que prefere ser atendido por um médico branco em vez de um negro.
O Ministério Público Federal investiga o caso, que foi definido pela OAB capixaba como crime de injúria racial.
Após a repercussão, em entrevista à Folha nesta sexta-feira (7), o professor disse ter sido mal interpretado e pediu desculpas a quem se sentiu ofendido. Segundo o docente, ele usou o termo "eu" em sentido genérico, se referindo à sociedade, e que, pessoalmente, jamais faria distinção de profissionais pela cor.
Na quarta (5), estudantes organizaram um protesto.
O reitor, Reinaldo Centoducatte, afirmou que ficou"constrangido"com o caso e o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufes publicou moção de repúdio.
O afastamento, segundo a universidade, não é uma punição da sindicância ainda em curso, mas sim para preservar sua integridade física e intelectual e também dos alunos.
"Tenho grandes amigos entre os alunos. Professor falando de improviso na sala de aula, às vezes alguma palavra atinge alguém", diz ele.
"Tenho vários amigos médicos negros, e com os quais eu me consulto. Minha namorada é negra. Minha família tem origem moura."
REPERCUSSÃO
Segundo o docente, sua trajetória acadêmica é de luta contra qualquer tipo de discriminação, o que pode ser constatado em suas publicações, tese de doutorado e participações em palestras com membros do movimento negro e entidades sindicais.
Ele diz que tem ficado em casa, com insônia e sem comer direito devido ao abalo causado pela repercussão.
"Há pessoas como o [deputado federal Jair] Bolsonaro que tem posições estranhas, que não condizem com a época em que a gente vive, de explosão democrática. [Racismo] É exatamente o oposto do que eu prego."