Após pressão, ciclovia é apagada em Higienópolis
Prefeitura decidiu alterar traçado da pista, localizada na praça Vilaboim
Comerciante afirma que 'vizinhança é influente'; gestão diz que mudança se deve a trólebus e parklet
Após pressão de comerciantes, a Prefeitura de São Paulo está apagando a ciclovia implantada na praça Vilaboim, em Higienópolis, região central da cidade.
A faixa vermelha começou a ser substituída por uma tinta de cor cinza e, com isso, a ciclovia mudará de traçado.
Desde a inauguração, em setembro, donos de bares e restaurantes da praça reclamavam que a via para ciclistas, pintada junto à calçada do lado direito, prejudicava os acessos de clientes aos estabelecimentos. Comerciantes haviam encaminhado um abaixo-assinado à prefeitura.
A administração Fernando Haddad (PT) nega ter cedido à pressão e diz que a razão da mudança da ciclovia é a "readequação das linhas de trólebus e implantação de parklets [minipraças]".
Para a comerciante Ana Maria Gomes, 54, uma das proprietárias da padaria Barcelona, que fica em trecho onde passava ciclovia, a "vizinhança influente" acabou ajudando. "Não é porque a gente é bonitinho. Aqui realmente tem uma vizinhança influente, moram vários políticos aqui em volta", diz.
Segundo ela, a via para ciclistas atrapalhava a carga e a descarga de comércios e também a clientela. "A região tem muitas pessoas idosas, com dificuldade para andar, que vêm de carro", diz. "O que a gente vê menos é bicicleta."
A ciclovia começava na rua Armando Penteado e seguia à direita até a rua Piauí. Agora, terá uma bifurcação à esquerda ao chegar à praça, pela rua Aracaju. O trecho que passa pelos restaurantes será apagado --segundo a CET, são cerca de 30 metros.
A ciclovia passará para o outro lado da praça Vilaboim até a rua Piauí, onde haverá conversão à direita. O novo trajeto ficará um pouco mais longo que o antigo.
A previsão é que a intervenção termine semana que vem.
A Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo) divulgou nota em que afirma que a prefeitura fez concessão a "setores economicamente favorecidos" que "estão a costumados a impor seus interesses". A entidade passou a pregar um boicote "aos comércios que preferem lucrar com o caos urbano".
"Não podemos abrir esse tipo de precedente e voltar a uma tendência histórica de colocar a bicicleta subjugada aos carros", afirma Daniel Guth, diretor da Ciclocidade.
Antes de a prefeitura justificar que a mudança de traçado era para readequação de linha de trólebus e parklets, a CET havia afirmado que os ajustes foram sugeridos por comerciantes e eram "aperfeiçoamento necessário".