Água que é retirada do subsolo de prédios pode ser aproveitada
Recurso vindo de lençóis freáticos não pode ser usado para beber
Faz dias que não chove, e eis que surge um riacho veloz na sarjeta da rua Dr. Tomaz de Lima, na Liberdade (região central). De onde vem tanta água, em plena crise hídrica?
O mistério é resolvido ao dobrar a esquina. O aguaçal vem de um cano na calçada em frente ao TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).
Todos os dias são despejados milhares de litros, vindos de um lençol freático atingido devido à profundidade da fundação do prédio.
A água é desviada para um reservatório, para não causar alagamento nos subsolos. De quando em quando, o excesso de líquido é lançado para a rede pluvial na rua.
Segundo o TJ, "foram feitas diversas tentativas de reutilização da água, mas o cheiro de esgoto inviabiliza o uso".
Esse tipo de situação se repete em centenas de prédios na cidade, mas não existe um levantamento oficial que contabilize todos os casos.
Esses reservatórios superficiais subterrâneos, abastecidos pelas chuvas e vazamentos da rede pública, podem ser atingidos a menos de cinco metros de profundidade.
As águas subterrâneas são assunto do Daee (departamento estadual de águas), que afirma que "o processo de lançamento dessa água na sarjeta é uma prática regular".
De acordo com a Cetesb (companhia ambiental de SP), essas águas não podem ser ingeridas e devem ser armazenadas separadamente da água potável da rede pública.
Mesmo assim, esse recurso poderia ser utilizado para lavagem de calçadas, rega de jardins e até em descargas.
"Estamos jogando fora uma coisa para a qual antes não se dava bola", diz Reginaldo Bertolo, diretor do Cepas (Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas), da USP. Ele explica que essas águas tendem a ter qualidade ruim.
Os vazamentos da rede pública de esgoto, de postos de gasolina e de fossas são apontados como os principais causadores de contaminação. Os resíduos industriais podem gerar uma poluição ainda mais tóxica.