Médicos da Santa Casa de SP pedem que gestor deixe cargo
'Só afastamento' dará 'transparência a apurações' da crise financeira, dizem eles, em documento
Profissionais afirmam considerar vergonhosa a administração de Kalil Rocha Abdalla, que não se pronunciou
Em meio a uma grave crise financeira na Santa Casa de São Paulo, médicos da instituição pediram nesta sexta (19) o afastamento do provedor, Kalil Rocha Abdalla.
O advogado, reeleito em abril, ocupa pela terceira gestão consecutiva o cargo máximo da entidade.
O pedido foi decidido em assembleia de manhã por cerca de 120 profissionais presentes. O apoio para que Abdalla deixe o cargo, dizem os médicos, é maciço e sustentado por todo o corpo clínico.
Na assembleia, o grupo escreveu documento que, depois de uma hora de mobilização na entidade, foi assinado por 1.300 profissionais, entre médicos, enfermeiros e residentes --a Santa Casa tem cerca de 7.000 funcionários.
No início da tarde, o pedido foi entregue no gabinete do provedor acompanhado de aplausos. O grupo foi recebido por uma secretária.
Procurado, Abdalla não se manifestou. Nesta semana, em entrevista à Folha, o provedor afirmou que está confortável em sua função.
"Acreditamos que só o afastamento do provedor atual da direção da NOSSA instituição vai possibilitar a transparência devida para as apurações", escreveram os médicos.
Em entrevista à Folha, integrantes do corpo clínico classificaram a gestão de Abdalla como "vergonhosa".
Os médicos dizem que a permanência de Abdalla no cargo se tornou insustentável devido aos graves problemas apontados em sua gestão.
Auditorias contratadas pelo governo do Estado apontaram que o hospital tem dívida de R$ 773 milhões --e não de pouco mais de R$ 400 milhões, como informado inicialmente. Os dados mostram ainda que imóveis da instituição estão alugados por valores até 81% abaixo dos de mercado.
Abdalla só pode ser destituído por renúncia, intervenção judicial ou a pedido da irmandade que o elegeu.
Nesta sexta, os médicos não deliberaram sobre salários, atrasados desde o dia 5, nem sobre a primeira parcela do 13º, que deveria ter sido paga em novembro. Estão sem salário 669 profissionais, dos quais 437 são médicos.
CIRURGIAS
Na quinta (18), por causa da crise, a Santa Casa suspendeu exames, consultas e cirurgias agendadas. Só serão atendidos casos graves, nos quais há risco ao paciente. Todos os diagnósticos tidos como menos graves serão adiados para data não definida.
A medida afeta parte das 4.000 cirurgias, 31 mil consultas e 150 mil exames realizados mensalmente, em média. As cirurgias agendadas serão analisadas caso a caso.