Fóssil e tapete estão entre itens raros furtados no país
Instituto aponta que mais de 1.600 objetos históricos estão desaparecidos
Desde 2007, pouco mais de 120 peças foram recuperadas; peças viraram produto de tráfico internacional
Um tapete do século 19, estátuas de santos que adornavam igrejas no Brasil, ossos de dinossauro e quadros de artistas como Pablo Picasso estão entre os 1.636 objetos históricos roubados e nunca recuperados no país.
Eles figuram no banco de dados do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Desde sua criação, em 2007, apenas 127 itens foram encontrados.
"Não é só o Brasil, o mundo é incapaz de evitar o sumiço do patrimônio", afirma Fábio Rolim, coordenador instituto. E a lista de desaparecidos não para de crescer.
Só em 2014, três itens sumiram: um incensário e uma colher de prata para cerimônias de uma igreja do século 16, em Igarassu (PE), e um sacrário (objeto que guarda itens sagrados) da igreja Ordem Terceira, de Salvador.
Hoje, a maioria das peças, como as telas "Dois Balcões", de Salvador Dalí, e "Marina", de Claude Monet, levadas do museu da Chácara do Céu, no Rio, em 2006, são alvo do tráfico internacional.
Mas nem sempre foi assim. Na década de 1980, objetos de ouro e outros metais preciosos eram mais visados, porque podiam ser derretidos. Incontáveis peças tombadas sumiram nesse período, e a chance de encontrá-las é muito remota.
"Com a ampliação do sentido do valor patrimonial, os criminosos aumentaram o repertório de peças para revenda. Não mais apenas ornamentos em prata e ouro, mas esculturas em madeira", diz Juliana de Souza e Silva, historiadora da arte do Iphan.
DINOSSAUROS
A trajetória do livro "Rerum Medicarum Novae Hispaniae", do botânico Francisco Hernández, sobre ervas medicinais mexicanas, ilustra um caso de sucesso.
Escrito em 1628, foi levado do museu Emilio Goeldi, em Belém, em 2005, e resgatado oito anos depois, numa casa de leilões de Nova York.
Tudo começou quando um avaliador decidiu checar se a obra constava no banco de dados da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal), que lista 43 mil itens. Com o resultado positivo, a cooperação internacional entrou em ação.
"O FBI prendeu a pessoa que estava com o livro. O objeto foi entregue em Washington [no escritório da PF] e voltou ao Brasil neste ano", diz o delegado Luiz Eduardo Navajas, chefe da Interpol no país.
Também aguardam repatriação os ossos de um pterossauro que viveu há centenas de milhões de anos na região da bacia do Araripe, na divisa entre Ceará, Pernambuco e Piauí. O fóssil estava sendo vendido no site eBay.
Segundo a delegada Tania Fogaça, da Interpol no Brasil, a peça tem grande importância paleontológica.
Mais complicado do que encontrar um bem roubado é impedir que ele saia do país. As quadrilhas costumam desmontar os objetos e espalhá-los em diversas malas, para chamar menos atenção.
No Brasil, a Polícia Federal e o Iphan devem ser alertados se houver suspeita sobre uma peça. Mas, diferentemente do que ocorre no exterior, recompensas são muito raras.
Segundo a Unesco, das Nações Unidas, o tráfico de bens culturais representa prejuízo anual de US$ 6 a US$ 8 bilhões. "O valor é irreparável", diz a historiadora do Iphan.