Sem espaço, passageiros entram pela saída
São 6h30 quando um micro-ônibus da linha 8013 (Morro Doce-Lapa) para em um ponto na rodovia Anhanguera, no sentido São Paulo. Ele está lotado, mas dezenas de pessoas se aglomeram na porta para entrar também.
Uma delas é a operadora de telemarketing Jéssica Lopes Dutra, que empurrava passageiros pendurados na porta na tentativa de abrir espaço e subir um degrau.
Quando percebeu que não teria sucesso, entregou pela janela o cartão de Bilhete Único à cobradora, que girou a catraca e permitiu que Jéssica entrasse pela porta traseira. Um repórter da Folha fez o mesmo para embarcar.
Planejada para transportar 11,9 mil passageiros por dia, a linha carrega mais que o dobro --são 26,9 mil, em média.
Isso faz dela a linha mais sobrecarregada da cidade. Pelos dados da prefeitura, porém, o índice de conforto no horário de pico está dentro do aceitável --são 5,8 passageiros por metro quadrado.
Alheios à análise oficial, os passageiros se espremem, e o calor deixa o ambiente sufocante. Uma placa indica que a lotação máxima é de 33 pessoas, 12 em pé. Mas o veículo transporta 58 passageiros, 21 sentados e 37 de pé.
"Hoje não está tão ruim. As férias devem ter esvaziado um pouco", conta Jéssica.
DEMORA
Essa não é a única linha da região, na zona norte, que leva até a Lapa, na zona oeste. Mas usuários dizem que somente ela para naquele ponto --as outras chegam ainda mais lotadas e passam direto.
O coletivo segue com lotação extrema por quatro ou cinco pontos, quando começa a esvaziar gradativamente. O que poderia ser algo relativamente rápido torna-se uma eternidade por causa do congestionamento formado na chegada a São Paulo.
A morosidade fez esse período de aperto máximo durar 30 minutos no dia em que a reportagem usou a linha. O trajeto completo durou uma hora e 25 minutos.
O ajudante de cozinha Aneislan Caetano Pereira, 25, disse que espera até dez minutos para conseguir entrar no ônibus. "Essa linha é bem cruel. Não temos faixas exclusivas na rodovia ou outra opção melhor para usar. Melhor se eu voltasse a pegar carona com alguns amigos e não dependesse mais de condução."
É preciso esforço para imaginar mais pessoas entrando em um ônibus daquele tamanho, mas o motorista Bruno da Silva Nascimento diz que o coletivo que dirige chega a encher ainda mais.
Ele é condutor da linha 8014 (Morro Doce-Perus), que tem um dos piores índices de conforto da cidade --6,8 passageiros por metro quadrado.
"No período de aulas, a coisa fica complicada. Muitos passageiros usam esse coletivo para descer na estação [Perus] de trem para chegar até a faculdade", diz.