Taxa extra para partos cobrada por médicos surpreende gestantes
Valor é justificado pelos obstetras pelo fato de ficarem 24 h disponíveis; CFM aprova a prática
Ministro da Saúde critica; presidente da ANS afirma que não há brecha na lei que possibilite a cobrança
Sofia nasceu em fevereiro de 2013, com apenas 30 semanas de gestação --dez a menos que o normal. Mas essa não foi a única surpresa que a jornalista Luciana Fuoco, 34, teve ao dar à luz.
"O médico só falou da taxa de disponibilidade no dia em que me deu alta. Cobrou R$ 2.300, pediu desculpas por não ter falado antes e me deixou pagar parcelado."
Luciana diz que não ficou magoada com a cobrança e acha que os planos de saúde deveriam pagar mais aos médicos. Ela conta que no dia em que entrou em trabalho de parto o médico interrompeu um jantar de família num domingo para atendê-la.
A cobrança, que tem o aval do CFM (Conselho Federal de Medicina) --desde que o médico abra mão do que receberia pelo plano de saúde e informe a paciente sobre a taxa logo na primeira consulta--, foi criticada pelo ministro Arthur Chioro (Saúde).
"É inadmissível", disse o ministro nesta terça (6), durante o anúncio de medidas para tentar reduzir o número de cesáreas no país.
"Não há na legislação nenhuma brecha para que se cobre por fora nenhum procedimento na saúde suplementar", disse André Longo, diretor-presidente da ANS (agência de saúde suplementar).
Silvana Morandini, conselheira do Cremesp (conselho regional de medicina de SP) e da Sogesp (associação dos obstetras e ginecologistas), não vê problema na cobrança. Segundo a médica, a taxa remunera o médico que fica 24 horas disponível para atender a paciente.
A profissional de educação física Carolina Brazolotto, 25, estava com quase oito meses quando o obstetra disse que ela teria que pagar R$ 4.000 pelo parto. "Na hora achei ok ser atendida pelo plantonista, mas a médica que fez o parto nem veio falar comigo", diz. Fernanda nasceu há dois meses, de cesariana.
A funcionária pública Igarana Moreira de Carvalho, 29, e a professora Tamara Martins, 29, só souberam da taxa com sete meses de gravidez. A primeira estuda usar o SUS, apesar de ter plano, por achar maior a chance de fazer ali o parto normal. A segunda já topou pagar os R$ 500 pedidos.