Crise da água
Previsão para os próximos meses também preocupa
Dezembro teve chuvas abaixo da média na região; janeiro tem situação parecida
No RN, abastecimento entrou em colapso em cidade do interior; em MG, turismo sofre efeitos da crise hídrica
Em motos ou jumentos transportando galões, lavradores da pequena São Miguel, no Rio Grande do Norte, fazem uma peregrinação até a casa do agricultor Saraiva Cesário Viana, 35.
É do poço em seu terreno que ele capta água e distribui para as famílias da região -- com um limite de 200 litros por dia para cada uma. "Numa situação dessas, um tem que ajudar o outro do jeito que dá", afirma Viana.
Morador da cidade distante 433 km de Natal, Viana já está acostumado com a falta de água. Em São Miguel, o açude que abastece a região atingiu 1% do seu volume. O sistema entrou colapso e a água não chega às torneiras desde o dia 1º deste ano.
Antes, a cidade também estava em sistema de racionamento, com cortes no fornecimento durante a noite.
ESTADO DE ALERTA
Se a situação já está ruim, as previsões não são otimistas para os próximos meses.
Meteorologista do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, Adelmo Correia diz que a situação é "preocupante". Dezembro e janeiro são os meses de chuva mais intensa, mas choveu abaixo da média histórica até agora --65% do previsto em dezembro e, até agora, só 9% do de janeiro.
"Em janeiro não choveu nada, só em forma de pancadas, que não ajudam no acúmulo da água", diz o meteorologista Claudemir de Azevedo.
O Inmet projeta também quadro ruim em Pernambuco. Nas regiões de Cabrobó, Ouricuri e Petrolina, área de influência do rio São Francisco, o volume de chuvas deve ser de até 40% da média.
O reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, na região central de Minas, preocupa a Cemig, porque está com apenas 10,4% da capacidade.
Há 55 dias, o volume era de só 2,5%, mas, em plena época das chuvas, encheu pouco.
O esvaziamento da represa de Três Marias fez o movimento turístico cair cerca de 50%, segundo a empresa municipal de turismo.
O movimento de bares, restaurantes e hotéis do entorno é fraco. Gilberto Silva, gerente do Grande Lago Hotel, diz que desde 2007, quando começou no trabalho, nunca tinha ocorrido algo parecido.
Com a usina soltando menos água, o histórico barco a vapor Benjamin Guimarães não navega mais com turistas em Pirapora (MG).