Dilma 'indigna-se' e convoca embaixador
Pena de morte 'afeta gravemente as relações entre os países', diz presidente; convocação demonstra desagrado
No Rio, praticantes de voo livre, esporte do qual Moreira fora instrutor, demonstraram revolta
A presidente Dilma Rousseff (PT) ficou "consternada e indignada" com a execução neste sábado (17) do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, condenado à morte por tráfico de drogas na Indonésia, disse o Planalto por meio de nota à imprensa.
O governo convocou o embaixador brasileiro em Jacarta e afirmou que a pena de morte "afeta gravemente as relações entre nossos países".
O representante foi chamado "para consultas" -medida que, na linguagem diplomática, é uma espécie de repreensão ao país.
O embaixador indonésio também foi chamado ao Itamaraty, onde recebeu uma carta de protesto formal.
A nota da Presidência menciona o apelo feito pelo Executivo brasileiro ao presidente do país asiático, Joko Widodo, na sexta (16), apesar de reconhecer "a gravidade dos crimes que levaram à condenação" e de respeitar "a soberania" da Indonésia.
"A presidenta Dilma lamenta profundamente que esse derradeiro pedido, que se seguiu a tantos outros feitos nos últimos anos, não tenha encontrado acolhida por parte do chefe de Estado da Indonésia, tanto no contato telefônico como na carta enviada, posteriormente, por Widodo."
Em entrevista organizada às pressas, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) procurou demonstrar o empenho do governo em evitar a execução de Marco.
Segundo documento distribuído pela pasta, desde a prisão do brasileiro, em 2003, seis cartas de presidentes com pedidos de clemência foram enviadas ao chefe de Estado indonésio -duas por Luiz Inácio Lula da Silva e quatro por Dilma Rousseff.
CONHECIDOS
A execução de Moreira, que estava preso na Indonésia por tráfico de drogas havia 11 anos, gerou revolta entre amigos e conhecidos do instrutor de voo livre.
Na tarde do sábado, praticantes do esporte que se encontravam no bairro de São Conrado, na zona sul do Rio, lamentaram a morte.
Para Fernando Legal, 32, professor de história e praticante do esporte há cinco anos, a execução demonstra "falta de consciência humanística" do país asiático.
"Em pleno ano de 2015 uma pessoa ser executada por fuzilamento é algo retrógrado e antiquado. Sou contra a pena de morte, mas, mesmo que o governo decidisse que ele deveria morrer creio que poderiam ter encontrado um meio menos agressivo", disse o professor.
A morte foi assunto na praia de São Conrado. Para Clara Martins, 23, estudante de relações internacionais, o governo foi mal na negociação. "Achei que o Itamaraty deveria ter se posicionado com mais ênfase", diz.