Que calor é esse?
Com 36,5°C, recorde do verão, paulistano teve um dia de muito suor, improviso com sombrinhas e leques e até gente 'filando ar condicionado'
O termômetro da av. Paulista marcava 36°C. Desfilando em frente ao Masp como se caminhassem no calçadão de Copacabana, as estudantes Júlia Costa, 16, e Isabela Otero, 16, trajavam shorts, camiseta regata e havaianas.
Moradoras da Bela Vista (região central), elas voltavam para casa no fim da tarde desta segunda-feira (19) depois de passar o dia no Top Center "filando ar condicionado".
"Temos três opções: ficar em casa suando, ir para a piscina de amigos ou passar o dia no shopping filando ar condicionado", diz Júlia.
A segunda-feira foi suada para os paulistanos. Pelo segundo dia consecutivo, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) registrou a maior temperatura deste verão na cidade: 36,5°C.
Foi a sexta maior na série histórica de 72 anos no mirante de Santana (zona norte). Para esta terça, o calor continua, com máxima de 34°C.
A relação dos dias mais quentes da cidade traz um dado preocupante: das dez maiores temperaturas, cinco ocorreram em menos de um ano, de fevereiro de 2014 até agora. A maior foi em 17 de outubro de 2014: 37,8°C.
A falta de estrutura para enfrentar o calor é o grande desafio dos moradores.
"São Paulo é uma cidade acostumada ao frio. Não temos condicionador de ar em casa, como os cariocas. Os ônibus também não são equipados com ar. Não tem praça, não tem verde. Resumindo, é um inferno", afirma a médica Débora do Nascimento Dias, 38, moradora de Santa Cecília (região central).
"Costumo nadar na piscina do Pacaembu. Mas, inexplicavelmente, a prefeitura fechou o estádio para reforma em pleno verão."
Cada um se arruma do jeito que pode, seja improvisando um leque, um chapéu ou recorrendo a sombrinhas e guarda-chuvas, que, segundo a estudante Bárbara Cintra, 16, que caminhava pela Paulista, têm dupla utilidade. "Na hora da chuva, já que todo dia tem tempestade, estarei 'armada'", brinca.
"Ela está com insolação, estamos voltando do médico. No sábado, abusou do sol. Lá em casa estamos dormindo em colchões na sala porque é o único lugar com ventilador de teto", emenda a mãe de Bárbara, Cláudia Cintra, 34.
Para quem vende gêneros de primeira necessidade, como sorvetes e picolés, o calor tem sido lucrativo.
A paleteria Mexican Fest, inaugurada há pouco mais de um mês na Vila Madalena (zona oeste), viu o consumo de picolés aumentar 50% neste final de semana. "Em domingos normais, vendemos 600 picolés. No último domingo, 900", comemora o gerente da casa, Agnaldo Teixeira.
Com o carrinho de sorvete em frente ao parque Trianon, na Paulista, Neyde Alves, 36, vendeu 379 casquinhas só na tarde de segunda. Ela não sabe se ri ou se chora: "Estou pedindo a Deus para chover. Tenho muito medo desta falta de água. Imagina São Paulo sem água? Mas não posso negar que este calor está bom demais para o negócio."
O pedido de Neyde ainda não teve muito resultado: nesta segunda, as chuvas no sistema Cantareira, que vive a pior crise de sua história, foram leves e isoladas.