Volta dos arrastões não afasta banhistas da praia do Arpoador
Roubos em série na orla da zona sul levaram a PM a reforçar a segurança aos finais de semanaMoradores da região afirmam evitar ir à praia, mas areias continuam lotadas de cariocas e turistas
A praia do Arpoador sempre marcou o verão carioca. Nesse trecho da orla de Ipanema, o Rio descobriu o surfe, o biquíni e até uma modalidade de crime: os arrastões.
Na atual estação, o lugar volta a registrar roubos em série a banhistas, que, ainda assim, lotam as areias.
"O mundo quer vir para o Arpoador. Acho bacana isso, porque vivo neste lugar desde 1937 e entendo por que as pessoas gostam tanto daqui. O que não dá para aceitar é a baderna", afirma Angelo Vivacqua, 81, que mora em um prédio com vista para o mar e localizado a poucos metros da areia da praia.
Em coro com outros frequentadores, ele elogia a beleza do lugar, mas lamenta o retorno dos roubos registrados nas últimas semanas.
"Não vou mais à praia aos sábados e domingos. Não tem nem onde fincar a barraca. É como um estádio lotado", afirma Vivacqua.
Morador de Ipanema, o empresário Raul Gonçalves, 53, também deixou de ir à praia nos fins de semana.
"Isso aqui virou um inferno, uma terra de ninguém. Agridem as pessoas, roubam e ninguém faz nada", diz.
Há duas semanas, no domingo (11), a reportagem da Folha testemunhou cinco roubos em duas horas. Na ocasião, 13 suspeitos foram detidos pela polícia.
Diante dos episódios de violência, a Polícia Militar anunciou reforço no policiamento e decidiu promover revistas a passageiros nos ônibus vindos da periferia.
A ampliação na chamada Operação Verão teve início no fim de semana passado.
Segundo o subchefe operacional da PM, Claudio Lima Freire, a prioridade é identificar passageiros que causem "tumulto e desordem" dentro dos coletivos.
O esquema especial de policiamento continua neste domingo (25). De acordo com a PM, a operação envolve 800 policiais por dia nos bairros de Botafogo, Flamengo, Leme, Copacabana, Leblon, Ipanema, Barra e Recreio.
Só no Arpoador haverá duas torres de observação.
ADMIRAÇÃO
O hábito de aplaudir o pôr do sol no Arpoador surgiu no início da década de 1960. E, até hoje, o ponto provoca fascínio em cariocas e turistas.
Um deles é Michael Cristian de Souza, 18, que saiu de sua casa em Costa Barros, na zona norte do Rio, para ver pela primeira vez o mar.
Chegou ao Arpoador acompanhado por um grupo de amigos do mesmo bairro.
"Meu pai é evangélico. A religião não permite esse negócio de mulher de biquíni. Por isso, eu ia mais à cachoeira, um lugar mais tranquilo, mais cristão. Praia mesmo, essa foi a primeira vez", conta o jovem, sem esconder o entusiasmo pelo lugar.
"Gosto do Arpoador porque é uma praia popular, onde tem gente de tudo quanto é lugar. Somos seres humanos e também temos direito de aproveitar o sol, o mar e essa cervejinha gelada", brinca Luiz Felipe Correia de Coelho, 21, que trabalha como malabarista na zona sul.
O turista holandês Martyn Wolff, 31, era outro a apreciar o Arpoador pela primeira vez, com três amigos de seu país.
"Vim aqui porque soube que era o melhor lugar para ver o entardecer."