Sem verba, prefeituras cancelam Carnaval
Crise da água e dengue são outros dos motivos apontados para a suspensão da festa em cidades de todo o país
Em MG, 16 municípios desistiram da folia; Ouro Preto entrou em racionamento para manter o evento
Em apenas uma hora, as inscrições abertas na quarta (14) pela Prefeitura de Itabira (MG) para os blocos de Carnaval se esgotaram. Cada um dos 14 inscritos receberia
R$ 2.000. Na semana seguinte, a folia foi cancelada.
Falta de água, aperto financeiro e risco de aumento de casos de dengue foram os motivos dados pela prefeitura.
Ao menos outras 15 cidades mineiras também desistiram da festa por razões parecidas. Brasília suspendeu o desfile e, em São Paulo, Bahia, Santa Catarina e Pernambuco, o cenário é o mesmo.
Há casos em que a decisão partiu da Justiça, como em Campina Verde (MG). A Promotoria alegou que a cidade passava por crise financeira, e a juíza Eleusa Gomes apontou gasto alto de água para tirar o "mau cheiro exalado de urinas humanas que se encontram em todos os lugares". A prefeitura recorrerá.
Em Itabira, Carlos Alberto dos Reis, o presidente do bloco Perecofolia, tricampeão do Carnaval, diz ter ficado chateado. Mas pondera: "Pela situação, a atitude foi correta".
Para o secretário de Esportes, Lazer e Juventude da cidade, Elson Ferreira de Sá, é mais vantajoso investir na captação de água do que fazer uma festa de cinco dias.
Itabira tem racionamento das 8h às 18h. "Tendo em vista que várias cidades da região cancelaram o Carnaval, avaliamos que poderia vir muita gente para cá", diz.
Em Araras (SP), a crise hídrica também foi a vilã. Ribeirão Preto e São Carlos cortaram os desfiles por falta de verba. "A prefeitura matou uma das principais tradições da cidade", diz João Bento da Silva, fundador da escola Os Bambas, de Ribeirão.
Catanduva (SP) também não fará o evento. A prefeitura trata o controle da dengue como emergencial e diz que o dinheiro vai para a saúde.
DIFICULDADES
Algumas cidades cortaram ajuda aos blocos, mas a folia resiste. Em Serra Talhada (PE), que culpou a crise econômica, o Camarões da Madrugada terá verba de empresários.
Em Florianópolis, escolas de samba vão pagar a conta.
Sabará (MG) decidiu manter o evento, mas o tradicional chuveirão que refrescava o público foi suspenso.
Fazer um rodízio de água agora para não faltar no Carnaval foi a opção de Ouro Preto (MG). No bloco mais tradicional da cidade, o Zé Pereira do Clube dos Lacaios, que sai às ruas desde 1867, não há preocupação.
"Com ou sem dinheiro de prefeitura, o Zé Pereira sempre saiu", diz a professora Deolinda Santos, da comissão administrativa do bloco.
Segundo ela, o grupo interrompeu suas atividades apenas em períodos de guerra.