Crise da água
São Paulo já adotou rodízio tendo mais água do que em 2015
Em 1994, por exemplo, área atendida pelo Alto Tietê teve restrição quando nível era 23,3%; sábado, estava em 10,8%
Sabesp diz que medidas como bônus e redução de pressão nos anos de 2014 e 2015 foram mais eficazes do que rodízio
Os últimos racionamentos na Grande São Paulo foram instituídos pela Sabesp, criada em 1973, quando a metrópole tinha muito mais água disponível do que hoje. Era ainda comum que apenas parte da região fosse afetada a cada crise.
Mesmo com faltas de água pontuais, o gigante reservatório do Cantareira, que já chegou a abastecer 9 milhões de pessoas, dava boa margem de abastecimento. O Guarapiranga era sempre o primeiro a sentir as secas intensas.
Em 1985, o reservatório teve que ser socorrido pelo Cantareira, que tinha mais da metade de sua capacidade útil --hoje ela se esgotou, sendo necessário recorrer ao seu volume morto.
Naquele ano, um rodízio foi feito para durar oito dias, mas durou dois meses.
A falta de água quase causou uma rebelião no 19º DP (Vila Maria). Quando os cerca de 80 presos (mais do que o triplo da capacidade das celas) perceberam que as torneiras ficaram secas, começaram a gritar e a bater latas nas grades das celas. A situação só foi contornada com o envio de um caminhão-pipa.
Segundo o governo, o racionamento, que atingiu 9 milhões de pessoas, foi responsável pela economia de 18 bilhões de litros de água.
Já em 1994, foi adotado rodízio após o Guarapiranga ter 30% da capacidade (neste sábado estava em 48,1%). As torneiras eram fechadas nas zonas sul, centro e oeste.
Os ciclos eram de 36 horas sem água a cada quatro dias. O baixo nível do Alto Tietê, que chegou a 23,3% de sua capacidade (neste sábado estava em 10,8%), logo levou o rodízio à zona leste.
A manobra durou até a véspera da posse de Mário Covas (PSDB) como novo governador. Os reservatórios, porém, não tinham se recuperado.
Em 2000, Covas promoveu racionamento nas zonas sul e oeste, depois que o Guarapiranga voltou a cair, chegando aos 40% da capacidade.
O sistema Alto Cotia, que também estava baixo, já havia deixado as cidades de Embu e Taboão da Serra sob racionamento. Cada morador desses locais ficava um dia sem água e dois dias com.
Covas tentava eleger então o seu vice-governador, Geraldo Alckmin, ao cargo de prefeito de São Paulo.
Três meses depois do início do racionamento e antes de os reservatórios se recuperarem, Covas suspendeu os cortes de água. A medida veio 20 dias antes da eleição.
"Se vocês acham que é mais interessante não acabar com o racionamento para não favorecer o Geraldinho, a gente pode pensar nisso", ironizou à época o governador.
Aliados, então, comemoraram a ação: "Tiramos munição do adversário", disse Campos Machado (PTB). A candidatura, porém, naufragou e o candidato do governador ficou em terceiro lugar.
QUEDA
Com a morte de Covas no ano seguinte, Alckmin assumiu o governo estadual e viu novamente os níveis dos reservatórios caírem a índices menores do que os de 2000.
Foi obrigado a instituir um rodízio para cidades da Grande São Paulo abastecidas pelo Alto Cotia. A capital paulista, mesmo com pouca água, ficou fora do racionamento.
Foi a primeira vez desde a criação do sistema Cantareira que se questionou se o maior reservatório da Grande São Paulo poderia secar. Naquela época, ele tinha cerca de 30% de sua capacidade e não se falava em volume morto.
A Sabesp diz que escolheu não adotar racionamento na atual crise, com o Cantareira no patamar de 5% da capacidade, por considerar que medidas como redução de pressão, interligação de sistemas e bônus têm melhor efeito. Com o agravamento da situação, porém, a empresa estuda planos de racionamento antes que o Cantareira chegue ao colapso.