Crise da água
Governo inicia ação para evitar desgaste e cria 'glossário' da crise
Com piora da situação, Sabesp orienta funcionários a não divulgarem informações internas
Para reduzir danos, gestão Geraldo Alckmin 'proibiu' o uso de expressões como 'crise' e 'volume morto'
Em meio à maior crise hídrica da história da Grande São Paulo, o governo estadual deflagrou operação para tentar reduzir o desgaste causado na imagem da gestão Geraldo Alckmin (PSDB).
Entre as medidas adotadas pelo Palácio dos Bandeirantes, estão a padronização do discurso de aliados da administração paulista, a proibição do uso de expressões como "crise" e "volume morto" e a orientação de funcionários da Sabesp, empresa de saneamento, para manter sigilo sobre informações internas.
Segundo a Folha apurou, no dia 23 de janeiro, a estatal divulgou internamente, em seu portal corporativo, circular que reforçava normas do código de ética e conduta da empresa, atualizado em junho do ano passado.
Segundo o texto, "todos os empregados têm obrigação de garantir a confidencialidade de todas as informações sob sua responsabilidade e de proteger segredos industriais ou dados sigilosos".
O alerta diz ainda que a empresa poderá, sempre que necessário, inspecionar e monitorar instalações, equipamentos, veículos, computadores e e-mails dos funcionários.
Segundo três funcionários da empresa, que falaram com a Folha sob a condição de anonimato, houve o aumento desde janeiro do rigor da empresa sobre a divulgação de informações internas.
Desde o reconhecimento público do diretor metropolitano da empresa, Paulo Massato, sobre a possibilidade da adoção de um rodízio de água, o governo estadual decidiu centralizar ainda mais as informações sobre o tema.
Para evitar declarações polêmicas, auxiliares do governo de São Paulo procuraram deputados e vereadores de partidos da base aliada para afinarem o discurso.
GLOSSÁRIO DA ÁGUA
Na estratégia de redução de danos, o governo estadual criou até mesmo um glossário próprio para se referir ao quadro de estresse hídrico.
No "dicionário da água", adotado por secretários estaduais e deputados tucanos, a palavra "crise" foi banida e substituída por eufemismos como "falta da água" ou "escassez de chuva".
A rejeição à palavra "crise" vem da tentativa de evitar a imagem de descontrole ou incapacidade da atual gestão.
O termo "volume morto", referente à água que fica no nível mais profundo dos reservatórios, também foi trocado por "reserva técnica".
Nesta sexta-feira (6), ao explicar a formação do nível de água profunda dos reservatórios, o secretário estadual de Recursos Hídricos, Benedito Braga, disse, em seminário na capital paulista, que o volume morto "agora se chama reserva técnica".
"Houve um entendimento que devia chamar isso [volume morto] de reserva técnica e coisas do tipo", disse.