Ato de Dilma agrava crise com Indonésia
Presidente se negou a receber credenciais de novo embaixador, ante ameaça de brasileiro ser fuzilado no país asiático
Em reação, Indonésia chamou diplomata a Jacarta e também convocou embaixador brasileiro para reunião
Em medida classificada como "desastrosa" internamente no Itamaraty, a presidente Dilma Rousseff (PT) se recusou nesta sexta-feira (20) a receber as credenciais do novo embaixador da Indonésia no Brasil, Toto Riyanto.
A decisão acirrou a crise entre os dois países, deflagrada após o fuzilamento do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, em janeiro.
Em reação, a Indonésia classificou o episódio como "inaceitável" e convocou Riyanto a voltar a Jacarta para consultas --no meio diplomático, gesto de reprovação.
Dilma já havia feito o mesmo quando Archer foi morto.
A tensão ocorre em momento delicado, porque o Itamaraty tenta livrar da execução outro brasileiro, Rodrigo Muxfedlt Gularte, 42, que, como Archer, foi condenado à morte por tráfico de drogas.
O Ministério das Relações Exteriores indonésio também chamou o embaixador brasileiro em Jacarta, Paulo Soares, para uma reunião neste sábado (21), para manifestar insatisfação com o episódio.
Na medida mais severa, o governo local pode determinar que Soares deixe o país.
RELAÇÕES
"Achamos importante que haja uma evolução na situação para que a gente tenha clareza em que condições estão as relações da Indonésia com o Brasil. O que fizemos foi atrasar um pouco o recebimento de credenciais", disse Dilma em cerimônia no Palácio do Planalto em que embaixadores de cinco países se apresentaram.
Em janeiro, ela enviou carta ao presidente da Indonésia, Joko Widodo, em que pede para Gularte não ser executado. Ela não recebeu resposta.
Assim que chegam ao país, os embaixadores têm de apresentar suas credenciais à chefe do Executivo para se tornarem oficialmente os representantes de suas nações no Brasil e poderem firmar acordos em nome de seus países.
Vestido em traje típico, praxe em cerimônias, Riyanto estava no Palácio do Planalto, mas foi informado pelo ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) de que Dilma decidira esperar por negociações com a Indonésia. Ao ser avisado, retirou-se.
No Itamaraty, a decisão de Dilma foi vista com surpresa. Na véspera, quinta (19), o Itamaraty havia publicado relação dos embaixadores a serem diplomados; Toto Riyanto era o primeiro da lista.
A preocupação dos diplomatas é que o agravamento das relações apresse a execução de Gularte. O Itamaraty pediu nesta sexta a internação do brasileiro em hospital --ele tem esquizofrenia.
Seria a última chance de livrá-lo do fuzilamento. Gularte perdeu os recursos na Justiça; em janeiro, o presidente Widodo lhe negou perdão.