Crise da água
Moradores culpam ar nos canos por sobretaxa
Queixa de aumento excessivo na conta de água reforça a hipótese
Hidrômetro não mede ar, diz Sabesp; para engenheiro, problema é possível devido à redução da pressão
Dezenas de pessoas fizeram fila no guichê de atendimento da Sabesp na sexta-feira (20). A maioria levou a mesma reclamação: aumento excessivo no valor da conta. A suspeita dos clientes é que a diferença tenha sido provocada por uma medição irregular dos hidrômetros.
Uma hipótese é o registro de ar pelo hidrômetro após as reduções de pressão feitas pela Sabesp na capital. Especialistas disseram à Folha que é possível ocorrer o problema.
Dona de uma lanchonete no Pari (centro), Patrícia Aparecida Martins, 41, disse que o valor da conta de água saiu da média de R$ 1.300, registrada em 2014, para R$ 2.500 em fevereiro de 2015.
"De que adiantou eu usar só copos descartáveis e controlar o acesso ao banheiro para economizar?", disse.
Ela afirmou ter contratado um especialista que não detectou nenhum vazamento. "A água acaba todos os dias, mas a conta disparou."
A Sabesp informou ter encontrado problemas no hidrômetro da lanchonete e emitiu uma nova conta conforme a média de consumo de 2014, no valor de R$ 1.112,26.
Na casa da securitária Maria Rosa Câmara, 44, na Vila Mariana (zona sul), o registro de consumo passou de 44 m³ em janeiro para 135 m³ em fevereiro. "Tomei um susto quando vi que a conta pulou de R$ 425 para R$ 2.742 de um mês para o outro [545% ]."
Segundo ela, não houve gasto excessivo ou instalação de nova caixa-d'água, por exemplo. "A Sabesp disse que vai levar até 20 dias para avaliar meu caso." A companhia afirmou que o aumento pode ter sido causado por um vazamento interno e acionou um técnico para verificar o local.
INVESTIGAÇÃO
O promotor de Justiça do Consumidor Gilberto Nonaka instaurou inquérito para investigar o problema, como noticiou "O Estado de S.Paulo" neste sábado (21). A Sabesp tem 15 dias para responder ao Ministério Público.
O engenheiro do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade de São Carlos, Eduardo Cleto Pires, diz que o hidrômetro pode registrar ar como se fosse água na volta da redução de pressão, sobretudo se o imóvel ficar em local elevado.
"Quando o abastecimento é retomado após uma pausa, ele também leva o ar que ficou nos encanamentos. Se o cliente abre a torneira, o ar passa pelo hidrômetro e será contabilizado", disse.
Mas, segundo Pires, esse "gasto falso" só vai causar um aumento significativo na conta se ele ocorrer diariamente.
Especialistas aconselham reabrir as torneiras apenas após o abastecimento voltar. Dessa forma, a quantidade de ar contida nos encanamentos deverá ser insignificante.
A Sabesp afirmou que "a redução de pressão não afeta a medição dos hidrômetros" e que os aparelhos, aprovados pelo Inmetro, "são projetados para registrar apenas o volume de água, e não ar".