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'Empurradores' ajudam cadeirantes em corridas de rua
Com auxílio de voluntários, pessoas com deficiências severas participam cada vez mais de provas pelo país
Participação é liberada apenas para quem já passou por avaliação clínica; triciclo especial é usado por segurança
Os batedores vão na frente, aos gritos de "abram caminho para os cadeirantes". Cabe a eles também se aproximar dos corredores e dar um toquezinho no braço, pedindo passagem.
Um novo fenômeno vem acontecendo nas populares corridas de rua país afora: a participação de pessoas com deficiências severas sendo empurradas por voluntários.
Em São Paulo, a ONG Alugue suas Pernas conta com 200 "empurradores" oficiais, que participam de provas mensais, de até 10 km, levando pessoas com restrições quase totais de movimentos para sentir o vento bater no rosto e o coração acelerar.
"A reação dos outros corredores ao verem uma pessoa sendo empurrada é emocionante. Uns batem palmas, outros choram, outros vibram. Há uma energia forte envolvida", diz Eduardo Godoy, 48, coordenador da ONG.
Para dar segurança e comodidade aos voluntários e aos cadeirantes, é usado um triciclo desenvolvido especialmente para as corridas, que tem uma barra de apoio que fica na altura do peito do corredor, o que o ajuda a empurrar a cadeira.
Apenas pessoas que passaram anteriormente por avaliação clínica podem ser empurradas. Oficialmente, são elas as corredoras, com direito a camiseta, medalha e água mineral.
Toda a logística por trás de levar uma pessoa com deficiência para as pistas pode custar até R$ 850.
"Às vezes, conseguimos isenção da taxa de inscrição para o cadeirante, mas precisamos pagar a dos voluntários, que vão se revezando a cada quilômetro. Há custo do transporte da pessoa até o local da corrida e com materiais como capacete e luvas", afirma Godoy.
Além dos auxiliados pela ONG, as corridas também contam com as parcerias entre familiares: pais e mães empurrando seus filhos ao longo dos trajetos.
Dessa forma, já são comuns provas que contam com até dez corredores sendo levados por voluntários.
Para o corredor Francisco Gurgel do Amaral, ter ao lado um cadeirante "experimentando um sentimento novo, mesmo que esteja sendo empurrado, é sensacional. Ele mostra que esta querendo superar seus limites também, está querendo romper o limite da deficiência".
REGRAS
Todos os voluntários recebem da ONG um manual de instrução contendo dicas de segurança, técnicas de empurrar as cadeiras e regras de tratamento com as pessoas com deficiência.
Em geral, os organizadores de corridas recomendam que os voluntários larguem com os cadeirantes separados da muvuca e que mantenham distância dos atletas profissionais, por segurança.
Mas a empatia com a causa tem sido tão grande que os próprios corredores pedem para que todos saiam juntos.
O corredor Diogo Mendonça é a favor da participação, mas alerta que é preciso alguns cuidados.
"É necessário que a cadeira a ser empurrada seja adaptada à prática esportiva, caso contrário pode provocar acidentes. Seria bom a possibilidade de uma largada diferenciada, de forma que os corredores que buscam tempo ou a elite que disputa pódio não seja prejudicada", diz.