Com medo de saque, morador não deixa casa alagada no Acre
População teme que bens sejam levados por 'ratos de água', que se aproveitam da enchente que já atinge 25 mil imóveis na capital
Moradores afetados pela maior cheia da história de Rio Branco se recusam a deixar as casas alagadas com medo de ter seus bens levados pelos chamados "ratos de água", ladrões que aproveitam a época de alagamento para realizar furtos.
Morador do bairro 6 de Agosto, um dos mais atingidos pela enchente do rio Acre, o vendedor Sebastião Alves dos Santos decidiu pendurar alguns móveis no teto de casa para protegê-los da água. E não quer sair de lá.
"Não vou sair. Se eu sair agora, terei só o trabalho de ter que ir e voltar. E essa mudança acaba com os móveis. Vou esperar o rio baixar", diz.
Com o quintal debaixo de água, muitos estendem as roupas na varanda de casa. Outros, já acostumados com seguidas enchentes, construíram imóveis de dois andares.
Responsável pela segurança nas áreas alagadas, o comandante do Policiamento da Capital, coronel Ulysses Araújo, diz que as ocorrências estão dentro do normal.
"Nenhum caso além do que ocorre quando não está alagado. A gente tem usado barcos onde precisa de barcos, nas áreas inundadas, ou vamos de carro se dá para entrar de carro", informou.
VÍTIMAS
De acordo com a Prefeitura de Rio Branco, cerca de 7.000 pessoas deixaram suas casas e foram levadas a 20 abrigos públicos na cidade.
No total, a cheia já atinge 86 mil pessoas e 25 mil imóveis. Na capital, o número de bairros afetados subiu para 53, além de 30 áreas rurais.
O centro da cidade foi interditado para a passagem de veículos --apenas ambulâncias e ônibus podem circular.
No sábado (28), a cheia causou uma morte. A inspetora Fátima Lima de Moura, 64, morreu depois de receber uma descarga elétrica, no bairro Palheiral, quando ajudava a filha a fazer a mudança da área alagada.
Em Porto Acre (a 60 km de Rio Branco), 140 famílias também foram atingidas.
Outras três cidades acrianas --Brasiléia, Xapuri e Epitaciolândia-- e estão em estado de calamidade pública.