Corte de verba deixa universidades sem limpeza, transporte e aulas
Redução de um terço dos recursos pelo governo Dilma Rousseff agravou crise nas federais
Faltam insumos em laboratórios e remédios em hospitais; promessa é de normalização dos repasses neste mês
Estudantes sem dinheiro para transporte, falta de medicamentos em hospitais, redução do serviço de limpeza e atraso no início das aulas.
A crise nas universidades federais se agravou depois do corte de um terço das verbas mensais pelo governo Dilma Rousseff --conforme decreto publicado em janeiro.
A promessa é que, a partir deste mês, esse repasse volte à normalidade, mas há um efeito cascata, já que os problemas se arrastam em alguns locais desde 2014.
Com isso, virou rotina, segundo alunos, docentes e servidores ouvidos pela Folha, a falta de insumos em laboratórios. Instituições como a UFMG (federal de Minas Gerais) atrasaram pagamentos de contas de água e energia.
"Algumas sofrem menos, mas todas tiveram problemas, sem exceção. É desesperadora a situação da UFMG", diz Rolando Rubens Malvaso Junior, diretor da Fasubra (entidade de servidores).
À Folha foram relatados problemas ainda em federais de Rio, São Paulo, Brasília, Uberlândia, Bahia, Goiás, Campina Grande, Uberaba e Sergipe. Houve casos, segundo a Fasubra, de "rodízio" de dívidas --ora paga a água, ora a energia, para evitar cortes.
"Faltam dipirona, antibióticos, gaze, catéter e soro no hospital da UFMG", disse Erickson Gontijo, 27, aluno do sexto ano de medicina.
Estudantes da Unifesp de Guarulhos (Grande São Paulo) perderam um transporte gratuito que existia desde 2012 da estação Carrão da linha 3 do metrô até a instituição. Em protesto, anunciaram paralisação de uma semana a partir de segunda-feira (16).
Já na Unifesp de Diadema (ABC paulista) as restrições orçamentárias interromperam a rotina de poda, resultando em mato alto e proliferação de pernilongos. "Levei umas cinco picadas de mosquito só no primeiro dia [de aula]. Depois comecei a passar repelente", diz a aluna de farmácia Marília Famelli, 23.
Em Uberlândia, segundo servidores, os problemas começaram no final do ano, com atraso no 13º, e levaram ao cancelamento de cirurgias no hospital universitário.
Em Campina Grande (PB), cinco obras foram adiadas e alunos que precisam de auxílio moradia e transporte estão com subsídios atrasados. A instituição deixou de receber R$ 20 milhões (20% do previsto) de novembro a dezembro. "Espero que em abril paguemos em dia", disse o reitor José Edilson de Amorim.
A federal da Bahia também atrasou contas, enquanto a de Goiás, do Rio e a UnB (Brasília) cortaram terceirizados.