Servidor deixa dívida após usar imóvel de Darcy Ribeiro
Funcionário do TJ do Rio ainda deve R$ 20 mil por aluguel em Copacabana
Sob guarda da Justiça, apartamento foi alugado a servidor por R$ 800, contra R$ 5 mil do preço de mercado
Um dos servidores do Tribunal de Justiça do Rio que moraram no apartamento deixado pelo ex-senador Darcy Ribeiro --quando ele estava sob guarda judicial-- acumula uma dívida de R$ 20 mil em aluguéis e ainda cobra ressarcimento por obras no imóvel.
Como revelou a Folha nesta quarta (18), num intervalo de 14 anos, enquanto tramitava a ação de inventário do imóvel após a morte de Ribeiro e de sua ex-mulher, ele foi alugado pelo próprio tribunal a mulheres de servidores.
O valor cobrado pelo aluguel era de R$ 800 por mês, contra uma média de mercado estimada em R$ 5.000.
O apartamento de 276 metros quadrados em Copacabana, na zona sul do Rio, é avaliado em R$ 3,8 milhões.
O servidor Eduardo Wrangler foi inquilino do imóvel por cinco anos. O contrato de locação foi feito em 2008 entre a mulher dele, Mara Dantas, e a Central de Inventariante, órgão do TJ que administra as heranças no Rio.
Além de ter deixado uma dívida de R$ 20 mil com aluguéis, Wrangler cobra na Justiça R$ 100 mil por melhorias que diz ter feito no imóvel.
Ele não foi encontrado nesta quarta pela Folha para falar do assunto. Em depoimentos à Justiça, disse que investiu em obras no apartamento porque ele não apresentava condições de moradia.
CORREGEDORIA
O apartamento em Copacabana havia sido deixado pelo ex-senador e antropólogo Darcy Ribeiro, morto em 1997, para sua ex-mulher, Berta --que morreu nove meses depois.
A Corregedoria do TJ do Rio investiga desde 2013 a utilização do imóvel por servidores que pagaram aluguel abaixo do mercado, mas ainda não obteve resultados.
A corregedora Maria Augusta Vaz disse em nota que "está apurando todos os fatos a fim de que todos os responsáveis sejam submetidos ao devido processo legal".
Se for comprovada alguma irregularidade por parte do inventariante, ele pode ser responsabilizado por "má gestão" do apartamento.
Em depoimento à Justiça, a coordenadora da Central de Inventariante do TJ, Cristina Barsotti, disse que foi feita vistoria da corregedoria no imóvel e que foi "verificada a compatibilidade do valor e cláusulas contratuais".
Na terça (17), Barsotti disse "não haver problemas em alugar imóveis a juízes, desembargadores ou seus parentes".
"Tenho impedimento de falar sobre processo que posso julgar, mas considero tais contratos, no mínimo, conflito de interesses", disse João Damasceno, juiz da 1ª Vara de Órfãos e Sucessões, onde está o inventário da ex-mulher de Darcy Ribeiro. Ele assumiu a vara há dois anos, quando o processo foi recuperado.