Crise da água
Ganho do Cantareira com chuvas deve durar 75 dias
Reservatórios entram no período mais seco do ano ainda em nível crítico
Para evitar um rodízio de água, governo aposta em obras para tentar aumentar a capacidade de outros mananciais
O saldo obtido pelo Cantareira no período tradicionalmente mais chuvoso do ano, que termina no final do mês, poderá se perder em 75 dias.
O cálculo considera a variação média do volume de água no sistema nos meses secos e o volume que o governo prevê retirar dele neste ano.
Em seis meses, o maior manancial da Grande São Paulo acumulou um "lucro" de 12 bilhões de litros.
O volume representa a diferença entre a quantidade disponível nas represas no início de outubro e a registrada neste sábado (28).
Em situação crítica, o Cantareira tem capacidade para armazenar 1,3 trilhão de litros, mas atualmente opera com 14,4% desse total.
Antes do início da crise, o sistema abastecia 9 milhões de pessoas. Agora, a clientela recuou para 5,6 milhões, já que parte foi socorrida por outros mananciais --o Alto Tietê e o Guarapiranga.
Mesmo com pouca água, a expectativa do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é que o Cantareira consiga atravessar o período seco, de abril a setembro, sem a necessidade de implantar um rodízio para os moradores de sua área, em especial a zona norte de SP.
PERÍODO SECO
O sistema nunca terminou a temporada de chuvas com um nível tão baixo.
"O próximo período seco deverá ser sofrível", disse Carlos Tucci, especialista em hidrologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Tradicionalmente, o período de outubro até março é o mais chuvoso no Estado. Houve vezes, como entre 2008 e 2009, em que o volume das represas do Cantareira aumentou 40% nesses seis meses --neste ano, o avanço será na casa dos 7%.
Foi há quatro anos que esse perfil começou a mudar --antes o manancial ganhava em média 163 bilhões de litros na temporada de chuva.
O período de 2013 e 2014 foi o que derrubou drasticamente o volume do Cantareira.
As chuvas não caíram sobre as represas, e o volume de água que entrava pelos rios despencou 85%. Com isso, o saldo daquele período chuvoso foi uma perda recorde de 263 bilhões de litros --o atual terá ganho de 12 bilhões.
Foi a partir dessa situação que o governo tucano iniciou uma corrida para evitar a adoção de um rodízio na Grande SP antes das eleições que reelegeriam Alckmin.
A ação mais dura, inicialmente não divulgada, foi um racionamento por meio da redução da pressão usada para empurrar a água pelos encanamentos. A medida seguirá em operação neste ano.
Ela trouxe economia de água, mas, ao mesmo tempo, deixou milhares de moradores com as torneiras secas, principalmente em bairros distantes e altos da cidade.
Para ultrapassar o período seco deste ano, o governo aposta também em obras que levarão água de outros mananciais a moradores que atualmente são abastecidos pelo sistema Cantareira.