Crise da água
Evento na Folha discute soluções para a gestão eficiente da água
Debate ocorrido na terça (31) apontou para a necessidade de articulação de agentes governamentais
Para presidente da Sabesp, avanços rápidos dependem da reestruturação das tarifas de saneamento
Uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos deve passar por uma reestruturação das responsabilidades dos agentes governamentais e por um debate sobre a tarifa de água e esgoto. Essa foi uma das conclusões do encontro realizado pela Folha na última terça (31) sobre a crise hídrica em São Paulo.
Estiveram presentes o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, o especialista em hidrologia da Unicamp Antonio Carlos Zuffo e a urbanista da Aliança Pela Água Marussia Whately. A discussão foi mediada pelo repórter especial Marcelo Leite.
Para Zuffo, a crise no Cantareira, o maior reservatório que abastece a Grande São Paulo, remonta à época de sua concepção, em 1973.
Segundo ele, o sistema foi dimensionado nos parâmetros dos anos 1960 e desconsiderou a existência de secas que ocorreriam de 50 anos em 50 anos. "A gente não sabia exatamente a variabilidade climática na região", disse.
Já para Kelman, a origem da crise está em uma seca severa entre os anos de 2013 e 2015, que derrubou a entrada de água no sistema. "Não seria razoável estar preparado para isso", afirmou.
O grande desafio da ciência agora, segundo o dirigente, é entender se os efeitos climáticos vistos no último ano são parte de um ciclo já conhecido ou se são efeito de uma mudança mais ampla.
Para Marussia, além da compreensão de fatores naturais, é preciso ampliar a articulação entre governantes.
Ela afirmou que a atual organização do país deixa brechas de responsabilidades entre prefeituras e governos estaduais e federais, além de entidades sociais, sobre a questão da água.
"Mais do que uma crise de água, é uma crise de governança. Não vai ser resolvida por um único ator. Vai exigir uma série de pactos."
TARIFA
Kelman falou da necessidade de uma reestruturação da tarifa de água e esgoto.
"Se a sociedade quiser rapidez, tem que exigir maiores tarifas. Porque ninguém faz mágica", disse.
"O serviço e qualidade que nós temos é uma opção da sociedade. A sociedade, se quiser apressar [o avanço do saneamento], que reivindique o seguinte: 'Não quero conta baratinha. Quero água garantida e saneamento'. Mas isso tem que vir da população."