São Paulo Fashion Week
Temporada mostra a nova cara da 'brasilidade'
Desfiles apresentam referências à fé, à música e ao surfe nacional
Grife Amapô teve funk e bumbum de fora; marca mineira Apartamento 03 levou sincretismo religioso à passarela
Os códigos da cultura brasileira nunca estiveram tão presentes na passarela da São Paulo Fashion Week sem que as coleções não caíssem no escopo banal futebol, do samba e da caipirinha quanto nesta edição do evento.
No último dia de desfiles, na sexta-feira (17), marcas como a Apartamento 03, do designer mineiro Luiz Claudio, a Amapô, das estilistas Pitty Tagliani e Carô Gold e a estilista Gloria Coelho buscaram referências nas roupas de religiosos, funkeiros e surfistas, respectivamente.
Na Amapô, penúltima grife a se apresentar no Parque Candido Portinari, onde ocorreu esta temporada de verão 2016, músicas de Valesca Popozuda serviram de trilha para a coleção colorida de miniblusas, minissaias e rasgos no bumbum.
E se antes o futebol era o esporte mais reverenciado pelos estilistas, agora é o surfe que enche seus olhos. O esporte atravessa um período de ouro no Brasil desde a colocação do paulista Gabriel Medina, em 2014, no pódio da modalidade no mundo.
Não foi à toda então que a mais contemporânea das estilistas de moda praia, a paulista Adriana Degreas, pescou peixes de águas abissais e tubarões para criar uma silhueta selvagem.
Barbatanas e bocas cheias de dentes adornam maiôs e biquínis cavados com referência ao surfe. (leia mais ao lado)
O preto e o branco, cartela cromática mais vista nas coleções desta SPFW, se misturaram na passarela de Gloria Coelho, que também olhou para o esporte em suas apostas para o próximo verão.
A mesma base de neoprene usada por Degreas foi a escolha de Coelho em alguns dos seus looks, que ainda misturaram referências ligadas ao mar em silhuetas típicas das décadas de 1960, 1970, 1980 e 2000.
Um tanto confusa do ponto de vista da edição, as peças apresentaram pontos de cor em tons de marinho e bordô, além de uma série de metalizados que devem agradar clientes mais jovens dispostas a causar na balada.
Intitulada "Cura", a coleção parece ter mais a ver com uma relação emocional da estilista com a moda do que uma cura física.
SINCRETISMO
Nesse mesmo viés, só quede maneira mais direta e bem executada, seguiu o estilista Luiz Claudio.
Sua grife, a Apartamento 03, é certamente a que produziu a melhor imagem de moda desta temporada de verão 2016.
Ao misturar referências do guarda-roupa dos bispos católicos, das túnicas usadas no batismo de cristãos neopentecostais e das imagens ligadas ao candomblé, Claudio produz a coleção mais desejável e internacional desta 39ª São Paulo Fashion Week.
As penas das aves usadas em rituais da umbanda e o giro das saias rendadas das baianas --na coleção, estampas borradas na cor verde--, provam a eficiência do estilista ao executar uma junção nada comum de três vertentes da fé intrincadas no imaginário popular brasileiro.