Voluntária viaja 12 h para ajudar vítimas de tornado
Cidade catarinense ficou parcialmente destruída após a tragédia, que matou dois
Estudantes deixaram as aulas para ajudar na reconstrução; moradores reclamam de alta de preços
Lilian Filgueiras, 40, enfrentou 12 horas de estrada, de São Bernardo do Campo, na Grande SP, para ajudar os moradores de Xanxerê (a 481 km de Florianópolis), afetados pela passagem de um tornado na segunda-feira (20).
Com ajuda de amigos para bancar a viagem, ela pretende passar uma semana na cidade como voluntária. "Não sei nem quem é o dono da casa onde estou trabalhando", disse ela, na sexta (24).
Sensibilizados com o drama de vizinhos, moradores deixaram de lado seus compromissos para auxiliar nos trabalhos de reconstrução e organizar o fornecimento de mantimentos e doações.
Em um centro de exposições transformado em núcleo de operações, cerca de mil pessoas se cadastraram como voluntárias. Estudantes e aposentados se misturavam a soldados do Exército no descarregamento de mantimentos, que vinham de caminhões até de outros Estados.
Centenas de móveis (armários, fogões e camas) foram entregues para os moradores que perderam tudo. Empresas cederam funcionários.
Entre os trabalhos está a organização das roupas doadas e a montagem de kits com alimentos. Para evitar tumulto, a distribuição das doações é feita por caminhões do Exército com apoio do serviço social do município.
As universitárias Franciele Sartor, 21, e Jéssica Severgnini, 19, aproveitaram que a faculdade suspendeu as aulas na semana da tragédia para trabalhar na organização das roupas. "Não custa nada. A nossa turma inteira se mobilizou", diz Franciele.
Alunos do curso de arquitetura visitaram as casas para ajudar a calcular os estragos nas moradias. "Alguns estudantes acolheram colegas em casa e lavaram as roupas deles, que ficaram sujas nos escombros", diz o professor Marcelo Kunrath, 33.
Nos quatro bairros mais atingidos, os voluntários removem os escombros e atuam na reconstrução de telhados. Com dificuldade para contratar serviços de reparos, vizinhos e amigos são a principal mão de obra para as vítimas.
A arquiteta Patrícia Gehlem, 38, conseguiu juntar dez amigos e vizinhos para remover os restos da casa da mãe dela, que precisou ser demolida. "Peguei uma turma do bairro. Todos ajudam", diz.
Duas pessoas morreram na tragédia na cidade.
PREÇOS ALTOS
Apesar da onda de solidariedade que se seguiu à tragédia, moradores atingidos também enfrentam aumento de preços no comércio e medo de saques.
O Procon recebeu reclamações sobre alta nos preços de material de construção, água e eletrodomésticos. E moradores se queixam de que itens como lonas e telhas foram reajustados devido à intensa procura. Telhas, por sinal, estão em falta na cidade.
"Paguei R$ 3,80 o metro quadrado de lona, que custava R$ 0,80. Estão se aproveitando", reclama o pedreiro Zemar Trindade, 25.
Também há receio de alta no preço dos aluguéis, já que muitas famílias vão precisar achar outro lugar para morar.
O Ministério Público do Estado e o Procon providenciaram ações especiais para coibir abusos. O órgão de defesa do consumidor enviou fiscais aos estabelecimentos para orientar sobre a proibição da prática. Nenhum comerciante foi autuado.
Ao menos até sexta (24), centenas de moradores permaneciam sem luz. Segundo a Defesa Civil, quase 4.000 casas foram danificadas.