Escola em greve barra alunos no portão
Funcionárias de colégio estadual na Barra Funda (região central de SP) controlam acesso de estudantes na entrada
Secretaria da Educação diz que vai apurar caso; sindicato afirma que só atua para convencer, e não impedir os jovens
Uma escola estadual da Barra Funda, na zona central de SP, chega a barrar, logo no portão, a entrada de alunos do ensino fundamental devido à greve dos professores, que completou dois meses.
A Folha presenciou duas funcionárias do colégio Doutor Alarico Silveira impedindo a entrada de alunos nesta quinta (14) com a alegação de que eles não teriam aulas.
"Você nem bola pode chutar no pátio", disse uma delas a um jovem de sandálias.
O portão era mantido entreaberto pelas funcionárias, que controlavam os acessos. A cada aluno que chegava, conferiam em uma lista impressa se ele teria aulas.
Uma funcionária chegou a esticar seu braço para barrar a entrada de um estudante. "Vocês correm tanto que acabam machucando os outros." Quando havia um "buraco" na agenda da sala do aluno, ela desestimulava a entrada.
"Você só tem matemática e artes hoje. Vai ficar todo esse tempo [livre] no pátio?", disse. O menino entrou, mas cerca de 30 estudantes não.
A maioria estava desacompanhada de maiores de idade. Aos que estavam com responsáveis, a funcionária orientava que não voltassem nesta sexta (15), dia de "paralisação geral", justificava. "Segunda-feira, se Deus quiser, volta ao normal."
Os docentes farão uma assembleia à tarde para decidir se mantêm ou não a greve.
Reunião na quarta (13) do comando da Apeoesp (sindicato dos professores) com a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) terminou em impasse.
Na escola da Barra Funda, estudantes sorriam com algum constrangimento ao serem dispensados. Vários meninos decidiram jogar futebol. Algumas meninas diziam que iriam para casa.
"Ah, nem vou entrar. Vou pra escola sozinho?", afirmou um aluno que teria aula.
"Na Alarico, é treta. Roubo 24 horas", contou um ex-aluno. "Não compensa [deixar estudantes entrarem]. É escola de bagunceiro", afirmou.
CONVENCIMENTO
A Secretaria da Educação afirmou ter instaurado apuração e que a escola conta com professores e educadores. Disse que, neste mês, o cadeado do portão foi danificado para impedir a entrada.
A pasta diz "lamentar que a paralisação prejudique a rotina de escolas e famílias".
"São injustificáveis as ações, por vezes violentas, para impedir o direito inalienável ao aprendizado", diz.
A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, afirmou que a entidade "trabalha na perspectiva de convencer, não de impedir a entrada" de ninguém nas escolas.
A professora afirmou que o direito do aluno à educação é garantido com a reposição de aulas aos sábados ou estendendo o horário durante a semana após o fim da greve. Alunos disseram que, aos sábados, "ninguém vai".