Sem-teto mira Dilma e faz novas invasões em terrenos privados
Com 1.300 pessoas, movimento entra em dois grandes terrenos da Grande SP para pressionar governo federal
Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto pede agilidade em uma nova etapa do Minha Casa Minha Vida
Integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) invadiram na madrugada deste sábado (16) dois grandes terrenos privados na Grande São Paulo.
As ocupações foram as primeiras de uma "jornada" de ações programadas para pressionar o governo Dilma a lançar a terceira etapa do programa federal de habitação Minha Casa Minha Vida (MCMV).
O movimento diz que as áreas estavam abandonadas e que são consideradas de interesse social no Jardim Batista, em Embu das Artes, e no Jardim dos Reis, na vizinha Itapecerica da Serra.
Segundo os sem-teto, cerca de 1.300 pessoas participaram das ações. A polícia não confirmou esse número.
Em Itapecerica, a ação durou cerca de duas horas entre a chegada dos sem-teto e a consolidação da ocupação, com a montagem de barracas de bambu e plástico fornecidos pelo movimento.
O líder do MTST, Guilherme Boulous, diz que as ocupações do fim de semana podem ser o começo de uma série. A nova etapa do programa, o MCMV 3, está atrasada e prevê 3 milhões de novas moradias no país até 2018.
Com as ações deste sábado, o MTST tem hoje cerca de 6.000 pessoas em áreas invadidas na Grande São Paulo.
Em Embu das Artes, o proprietário do terreno ocupado chegou por volta das 8h30, acompanhado da mulher, de duas filhas e de um genro.
Professor de matemática da rede estadual (atualmente em greve), Daniel de Morais Vieira, 52, lamentou a ação e afirmou que cuida do sítio "como um filho" e que preserva as nascentes da represa Guarapiranga.
Em conversa com coordenadores do movimento, ele disse que era "tão vítima quanto" os militantes, porque tenta há anos vender o terreno, mas a legislação ambiental não permite.
Segundo Vieira, a família paga R$ 50 mil em IPTU. Ele disse que tentou vender a propriedade para a Prefeitura de São Paulo construir habitação social, como prevê o Plano Diretor Municipal, mas disse ter sido impedido pela legislação ambiental.
Levantamento do vereador Gilberto Natalini (PV) contabiliza hoje na região metropolitana 26 áreas de interesse ambiental invadidas.
Quase todos os invasores abordados pela Folha em Itapecerica da Serra moram de favor ou gastam mais da metade de toda a renda disponível da família com aluguel.
A faxineira Janete Gomes, 58, por exemplo, consome "bem mais da metade" do que ganha com o aluguel de R$ 300 de um quarto e sala no Parque Bologne. Esta foi a primeira ocupação de sua vida. "Se ficar aqui, vai sobrar mais para comer", disse.
Entre a maioria dos invasores, as críticas são pesadas ao governo Dilma, depositário de grande parte dos votos dos presentes em outubro. Fora moradia e aluguel, a maior reclamação geral é com o descontrole da inflação.