Ministério suspende envio de haitianos a SP
Pasta da Justiça, que financia transporte desses imigrantes, diz que não permitirá viagens sem plano de acolhimento
Medida foi tomada após queixa do prefeito Haddad (PT) de que não foi avisado sobre chegada de 968 pessoas
O governo da presidente Dilma Rousseff (PT) suspendeu, nesta terça (19), o transporte de refugiados haitianos do Acre para São Paulo e outras cidades brasileiras.
A medida foi tomada depois de o prefeito paulistano, Fernando Haddad (PT), reclamar, nesta terça, que não fora informado pelo governador acriano, Tião Viana (PT), da nova leva de 968 haitianos que chegaria à cidade.
O Ministério da Justiça firmou convênio de R$ 1 milhão com o Acre neste ano para viabilizar a distribuição de haitianos pelo país. Depois do envio de imigrantes a São Paulo sem aviso, a pasta informou que não permitirá as viagens até que haja um plano de acolhimento.
A ausência de planejamento causou superlotação na paróquia que é referência para os haitianos que chegam a São Paulo, a Nossa Senhora da Paz, no Glicério (centro).
A população que dormia improvisada no saguão da igreja mais que dobrou desde domingo (17) --foi de 60 para 140 pessoas. A Casa do Migrante, espaço criado no local com a infraestrutura básica, está com sua lotação de 110 vagas esgotada.
O padre Paolo Parisi afirma que a situação "beira o limite". Nesta terça, a reportagem flagrou um dos imigrantes tomando banho em um mictório no saguão da igreja.
Parisi afirmou que o salão tem como finalidade recepcionar os imigrantes e fazer o cadastro. Por isso, o local conta com seis banheiros, três masculinos e três femininos, todos sem chuveiro.
"Às vezes acontece, já que não temos como oferecer (chuveiro na Casa do Migrante) ao mesmo tempo para todos", disse o padre, sobre o banho improvisado no mictório. "(O salão) não foi planejado para essa finalidade."
Há mais de um ano, quando a imigração de haitianos para o Brasil explodiu, a paróquia ocupa um vácuo deixado pelo poder público.
O governo Tião Viana diz que os haitianos não querem ficar no Acre. Haddad cobra planejamento dos governos federal e do Acre. A gestão Dilma concede vistos humanitários, mas não conseguiu dar conta do acolhimento.
O resultado é que muitos haitianos chegam a São Paulo sem emprego ou moradia e vão direto para a paróquia.
"A ação humanitária deixa de ser humanitária quando não é planejada. Nós preparamos sopa, quebramos a cabeça para cumprir uma função que deveria ser do Estado", afirma o padre.
Parisi disse ter sugerido à prefeitura um convênio com entidades que acomodem imigrantes. A prefeitura disse que, enquanto tenta agilizar essas parcerias, procura terreno para um abrigo de emergência.
Haddad afirmou que "fará o melhor" para receber essa população e criticou a falta de comunicação. "Desta vez não fomos informados com antecedência."
O Ministério da Justiça disse, em nota, que "concorda" que as ações devam ser "coordenadas entre vários órgãos do governo federal, Estados e municípios". O governo acriano considera a situação "delicada" e diz que esgotou sua possibilidade de ação.