Crise da água
SP força racionamento, e Cantareira começa seca com 'lucro' nas represas
Maior reservatório da Grande SP conseguiu acumular água, mesmo com início do período de estiagem
No ano passado, às vésperas das eleições, gestão Alckmin liberou mais água a moradores da região metropolitana
O período seco deste ano está bem mais úmido em relação a 2014, o que tem colaborado para o lento ritmo de queda do nível dos reservatórios do Cantareira, o maior sistema da Grande SP e também o de situação mais crítica.
Mas essa quase estabilidade do manancial também tem um outro motivo: o racionamento imposto pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) em bairros mais altos e também distantes dos reservatórios.
A diferença entre o início dos períodos de estiagem de 2014 e 2015 aparece em alguns números. Neste ano, do começo de abril até agora, o Cantareira conseguiu ganhar 6,1 bilhões de litros de água.
Esse é o saldo entre a água que entra no sistema, pelos rios e pela chuva, e a água retirada pela Sabesp para abastecer a Grande SP e outras cidades do interior paulista.
No mesmo período do ano passado, porém, em vez de acumular água, o Cantareira perdeu 54,5 bilhões de litros, volume nove vezes superior.
Essa diferença ocorre primeiramente porque o volume de água que tem entrado no sistema é maior do que no ano passado, quando SP viveu a pior seca da história.
Neste ano, o Cantareira recebeu em média 15,5 mil litros de água por segundo em abril e 11 mil em maio. Em 2014, no mesmo período, os índices eram de 13,4 e 6,2 mil litros.
ÁGUA NAS ELEIÇÕES
Outro fator ainda mais relevante é que no ano passado, às vésperas da eleição em que Alckmin acabou reeleito no primeiro turno, a Sabesp retirava 23 mil litros de água por segundo do sistema para distribuir à população.
Atualmente, a estatal reduziu a captação para só 13 mil litros por segundo. Ela ainda pode chegar a 10 mil litros.
Para toda essa redução, há duas principais explicações:
1) o Cantareira atendia 9 milhões de pessoas e hoje abastece pouco mais de 5 milhões (a diferença foi socorrida por outros reservatórios, o que só foi possível após obras que levaram alguns meses);
2) o governo reduziu a pressão nos encanamentos e, com menos força para ser empurrada pela rede, a água passou a não chegar com a mesma frequência em residência altas e distantes das represas, numa espécie de racionamento.
Apesar de o Cantareira ter "reagido" melhor neste início de seca, o volume de água disponível agora é ainda menor do que no mesmo período de 2014 --194 bilhões de litros hoje, ante 258 bilhões.
Nesta quinta-feira (21), o manancial operou com 15,3% de sua capacidade. A Sabesp espera chegar ao fim da seca, em outubro, acima dos 8%.