Foco
'Sommelier' de maconha é referência entre adeptos de cultivo da cannabis
William Lantelme Filho criou portal de notícias e torneio, prática que pode levar à prisão se a polícia entender se tratar de tráfico
"Maconha é como vinho. Tem diferentes cheiros, aromas e efeitos. Só plantando para ter controle de cada um deles e saber qual consumir."
Depois de viajar por dez países para discutir o cultivo e a regulamentação do consumo da droga, o designer William Lantelme Filho, 39, passou de um simples ativista para um especialista --em provar a erva.
Lantelme virou referência entre cultivadores após fundar o portal Growroom em 2002 --o maior sobre o tema em português. A ideia surgiu quando ele estudava design na Alemanha e tinha de plantar a maconha que fumava devido ao alto custo da droga.
"Isso me incentivou a criar o projeto para que mais pessoas deixassem de fomentar o tráfico", conta o ativista.
O portal reúne notícias sobre presos por cultivo, informações sobre uso medicinal e até receitas, como o hambúrguer de maconha.
"A maconha tem 80 tipos diferentes de canabinoides [substâncias derivadas da planta]. Cada um deles tem um efeito diferente", explica.
É proibido o cadastro de menores de idade no site, bem como a venda de produtos.
COPA
Além de cerca de 10 mil acessos por dia, o Growroom tem um fórum com 65 mil membros cadastrados. Com a intenção de promover o encontro entre eles, Lantelme criou a Copa Growroom --como fazem os vinicultores.
"As pessoas se reúnem para provar diferentes tipos de vinho nas copas. Isso pode ocorrer com a maconha também, devido aos inúmeros tipos de terreno", afirma.
Mas uma ação da polícia após o evento que ocorreu em Porto Alegre (RS) no fim de 2013 pôs fim aos planos de novos encontros no Brasil.
Isso porque os policiais classificaram como "um deboche" um vídeo na internet em que os participantes fumam e analisam maconha.
Para não correr mais riscos, Lantelme estuda marcar em outro país. "A gente está vendo a possibilidade de fazer no Uruguai [onde é permitido o uso recreativo]."
Ao menos cinco pessoas estão presas no Brasil por cultivar maconha. O delegado titular do Denarc (departamento de narcóticos), Ruy Ferraz Fontes, explica que essa prática leva à prisão se considerada como tráfico, cuja pena pode chegar a 15 anos.
"Se a quantidade pudesse ser configurada como consumo pessoal, o flagrado teria apenas que assinar um termo circunstanciado", afirma.
A legislação brasileira considera crime o porte, o consumo e a venda de drogas. A lei, porém, não especifica uma quantidade para diferenciar o tráfico do consumo.
O psiquiatra especializado em drogas e dependência química Dartiu Xavier explica que o uso crônico de maconha pode causar efeitos colaterais e agravar doenças.
"O usuário pode sentir que tem menos agilidade e mais dificuldade em focar a atenção, por exemplo", diz.
Ele afirma que um quadro de depressão, por exemplo, pode ser agravado ou atenuado conforme o tipo de erva utilizada.