Escola quer repor toda a greve em 15 dias
Unidade estadual da zona leste de SP sugeriu duas semanas de aulas extras nas férias, mas pais de alunos recusaram
'[Professores] Querem é dar uma aula correndo, passar meu filho [de ano] sem aprender', disse uma mãe de aluno
A dona de casa Flávia Hernandes exibia revoltada o boletim do filho, aluno do sexto ano da escola estadual Sapopemba, no extremo da zona leste de São Paulo.
"Desde março ele não tem aula de matemática e de história, porque os professores estão em greve. Agora, a escola quer repor em 15 dias, no meio das férias, tudo o que ele perdeu. Você acha que dá para recuperar três meses em 15 dias?", disse nesta quinta (28).
Flávia havia acabado de sair da reunião em que pais e mães discutiram com os professores o desempenho dos alunos no bimestre. Apesar de já ser final de maio, o encontro avaliou somente os dois primeiros meses do ano.
No boletim do filho de Flávia, os campos que indicavam notas e faltas das disciplinas de matemática e história estavam todos zerados. O mesmo aconteceu com o filho de Camila Melo, que também é aluno do sexto ano.
"Meu filho não vai aprender tão rápido um conteúdo tão grande. O que eles querem é dar uma aula correndo, passar meu filho sem aprender e esquecer que aconteceu essa greve", disse.
Na reunião, segundo o relato de mães à reportagem, os professores disseram que outra alternativa seria fazer com que a reposição não fosse obrigatória e que ficasse a critério dos pais mandar os filhos para a aulas. "Eu e outras mães fomos contra essa ideia", disse Camila.
Diante do impasse, os professores disseram às mães que voltarão a se reunir para tentar uma outra solução.
Procurada, a direção da escola não quis atender a reportagem. Alegou que cumpria uma ordem da Secretaria da Educação, do governo Geraldo Alckmin (PSDB), que teria proibido entrevistas e o fornecimento de dados para a imprensa sobre a greve.
Outras escolas procuradas pela Folha nesta semana também deram essa resposta.
A Secretaria da Educação negou que tenha dado essa orientação aos funcionários e professores das escolas.
CADERNO EM BRANCO
Nesta semana, a Folha falou com professores e diretores de dez escolas da lista das 16 maiores em número de alunos na capital. A quantidade de grevistas nessas escolas caiu nas últimas semanas.
Na escola Tiago Alberione, na zona sul, por exemplo, o total de professores parados caiu pela metade. No início de maio eram 12 grevistas e agora são apenas 6, de um total de 102 professores.
Sob a condição de anonimato, professores da escola de Sapopemba informaram que, no momento, há 12 grevistas, de um total de 120 professores da unidade. No começo da paralisação, em março, eram 25 em greve.
Lá, a maioria dos professores de braços cruzados leciona no período noturno.
A secretaria informou que apenas 2 de 146 docentes faltaram nesta quinta na escola Sapopemba devido à greve. Informou ainda que existe um quadro de professores substitutos para suprir ausências.