Radar federal estava quebrado quando chuva matou 15 na BA
Instrumento operado por ministério para alertar riscos em Salvador aguardava conserto
Para Defesa Civil, ele ajudaria a prevenir acidentes; pasta da gestão Dilma diz que outros eram suficientes
O radar meteorológico do governo federal usado em Salvador para alertar sobre riscos decorrentes das chuvas estava quebrado durante os deslizamentos de terra no final de abril que provocaram a morte de 15 pessoas.
A utilidade do instrumento, que é operado pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é justamente prever as chuvas antes que ocorram e os riscos de acidentes.
O Cemaden só possui um radar meteorológico na capital baiana. Além dele, há 24 pluviômetros que medem a chuva que já está ocorrendo.
A Defesa Civil da Prefeitura de Salvador e a Defesa Civil do governo da Bahia disseram à Folha que a operação do radar poderia ter ajudado a prevenir os acidentes.
Sem esse instrumento, os alertas emitidos pelo governo federal foram baseados só nos pluviômetros, que diagnosticam a chuva só na hora.
Em um evento em 2012 que anunciou a instalação de novos radares, o geólogo Agostinho Ogura, do Cemaden, definiu: "Ter o radar é olhar a previsão meteorológica no campo futuro. Ter o pluviômetro é saber o quanto está chovendo de fato".
Tanto o ministério do governo Dilma Rousseff (PT) como o Cemaden afirmam que os pluviômetros foram suficientes para embasar os alertas (leia nesta pág.).
ALERTAS
Após danos internos, as peças do radar foram enviadas à fabricante na Alemanha em 26 de março. O equipamento voltou a operar em 4 de maio.
Segundo o ministério, não houve gasto com o conserto porque ainda estava na garantia. Implantado em 2014, o radar custou R$ 8 milhões.
As fortes chuvas que atingiram Salvador no fim de abril provocaram, no dia 27 daquele mês, ao menos 15 mortes por deslizamentos de terra, todas na periferia.
O primeiro alerta, de nível moderado, foi enviado pelo Cemaden aos departamentos de Defesa Civil estadual e municipal no dia 23. No dia seguinte, foi enviado alerta alto, indicando o bairro de Brotas como de risco. Lá, porém, não houve mortes. No dia 25, o alerta foi para moderado.
Já no dia 26, véspera das mortes, foi enviado um alerta alto, com destaque para a região do Alto do Peru, que estava recebendo alto índice de chuva. Justamente em seu entorno ocorreram os deslizamentos com 15 mortes.
A Defesa Civil de Salvador, porém, disse que os alertas não indicavam locais exatos nem a quantidade de chuva.
"Com o radar, conseguiríamos saber com mais exatidão detalhes sobre a precipitação que se aproximava da capital baiana naquela ocasião", informou o órgão.
O superintendente da Defesa Civil da Bahia, Rodrigo Hita, disse que o radar poderia dar uma antecedência de meia hora a uma hora para evacuar áreas. "Esse radar funcionando pode interpretar e ver onde vai cair a chuva", afirmou. Segundo ele, existem cerca de 600 encostas em Salvador e, por isso, é necessário mais precisão.