Francisca Gonçalves Trajano (1932-2015)
Doce cantora com cheiro de mel
A doçura de Francisca Gonçalves Trajano e os pratos refinados que cozinhava encantaram o dr. Zerbini, primeiro médico a realizar um transplante de coração no Brasil, e outros nomes de destaque da medicina que visitavam Marília, a 435 km de São Paulo.
Em meados da década de 1960, os profissionais iam à cidade para ver o diretor da recém fundada Famema (Faculdade de Medicina de Marília), Nelson Casadei, e sua mulher Cleyde, ambos médicos, e comer tucupi e doces de cupuaçu de Chiquinha, que morava com o casal.
Chegou à casa em 1960, quando um dos filhos deles nasceu, mas a amizade entre a doutora e Chica era antiga, antes mesmo dela servir de cupido quando o casal brigava.
Paraense da Ilha de Urucurituba, no rio Tapajós, perdeu a mãe no parto e sofreu na mão da madrasta durante a infância em Fordlândia, no Pará, área produtora de látex do empresário americano Henry Ford (1863-1947).
Em 1945, com a compra da região pelo Brasil, Chica foi entregue com 13 anos pela irmã à mãe da futura doutora. Virou a segunda mãe de duas gerações da família.
Espalhava pela casa seu cheiro de mel e a alegria com sua voz, cantando canções de artistas como Nelson Gonçalves e Lupicínio Rodrigues. Depois que ficou mais velha, passou a gostar muito de filmes, especialmente os com o ator americano Richard Gere.
Em maio, descobriu uma fibrose pulmonar. Morreu no dia 17, após ficar 15 dias internada devido à doença. Deixa a irmã, os sobrinhos, 20 filhos postiços, pelo menos, que foram criados por Chica, e os netos emprestados.