Cota divide analistas dentro e fora da USP
Ex-reitor aprova adoção do Enem pela universidade, mas defende reserva de vagas apenas por critério social
Já diretor de ONG critica ausência de cursos tradicionais na lista dos que adotam novo sistema de seleção
O novo formato de seleção de calouros dividiu analistas dentro e fora da USP.
Para Adolpho José Melfi, ex-reitor da instituição, a adoção do Enem como instrumento de seleção é uma "boa medida", que pode ampliar a inclusão na universidade.
Ele critica, porém, a reserva de vagas. "As universidades precisam dar mais oportunidades para grupos que tenham mais dificuldade de acesso, mas sou contra as cotas raciais", afirmou ele.
"Penso que o melhor caminho seria instituir cotas sociais, dar mais chance para pessoas com menor poder aquisitivo, vindas de escolas públicas. A cota racial pode criar situações de negros ricos, embora sejam poucos no Brasil, terem mais chance de acesso que uma pessoa não negra e pobre", completou.
Para frei Davi Santos, diretor-executivo da Educafro, ONG voltada à inclusão de negros no ensino superior, a nova seleção mostra "um crescimento da consciência social da universidade".
Ele critica, porém, que cursos tradicionais e mais disputados da capital, como medicina e engenharia, tenham ficado de fora da medida. "[A USP] deixa de assumir um compromisso com um país melhor, mais integrado", diz.
Eduardo Figueiredo, coordenador do pré-vestibular Objetivo, discorda. "Em medicina, tem que prevalecer a meritocracia. É questão de justiça que todos concorram com a mesma chance, sem vantagem para ninguém."
Para ele, o exame federal não tem "qualidade" para substituir as provas da Fuvest, que faz a seleção da USP.
Diretor da Faculdade de Direito (que destinará 20% das vagas para o ensino público via Enem), José Tucci afirma que a inclusão deve ser feita na USP, mas com "prudência" --por isso, o Direito não aderiu à reserva a alunos pretos, pardos e indígenas.
"Não é só dar a vaga, precisamos definir como o aluno consegue se manter na universidade", disse.
Para Maria Cristina de Oliveira Reali Esposito, presidente da Comissão de Direito à Educação e à Informação da OAB de São Paulo, a seleção mais ampla exigirá da USP acompanhamento mais próximo dos calouros.
"A Faculdade de Direito é um curso difícil. Esses alunos precisam ser acompanhados para que consigam concluir."