Brasil entra na mira de empresas israelenses
Há cerca de 250 indústrias da água naquele país, em busca de mercados
Feira do setor irá mostrar em outubro soluções como uma cola não tóxica para tapar buracos em canos
A crise hídrica paulista entrou no radar da indústria da água de Israel. Com incentivos do governo tanto na área de pesquisa como na incubação de start-ups, Israel tenta se consolidar como uma espécie de Vale do Silício das soluções hídricas.
"Cada vez mais crianças querem aprender sobre a indústria da água. Também há novas matérias surgindo nas universidades e mais gente estudando engenharia hidráulica", diz Adi Yefet, diretora do Israel NewTech, programa criado pelo Ministério da Economia para fortalecer o setor dentro e fora do país.
Em um país com 8 milhões de habitantes, falta mercado para as cerca de 250 empresas de tecnologia da água, que veem grandes oportunidades de negócio nos problemas hídricos enfrentados por gigantes como China, Índia e Brasil. Hoje, as exportações do setor chegam a R$ 2 bilhões por ano.
O cônsul para assuntos econômicos de Israel em São Paulo, Boaz Albaranes, acredita que a crise hídrica paulista deve engordar a delegação de brasileiros na feira do setor promovida pelo país em outubro, a Watec.
Entre os convidados estão o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, e membros do consórcio da bacia dos rios PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), que alimentam o sistema Cantareira.
Entre as companhias que estarão no evento, um dos principais focos é a redução de perdas, problema bastante comum devido à idade dos encanamentos das grandes cidades do mundo.
Na cidade de São Paulo, cerca de 20% dos canos têm mais de 40 anos, e a rede tem, em média, 33 anos.
Os vazamentos causam desperdício de 19,5% da água, quase o dobro do índice israelense, de 10%.
A empresa Curapipe, por exemplo, criou uma cola não tóxica para tapar vazamentos em encanamentos. Assim que passa por um buraco, a substância entra em contato com o ar e se solidifica.
O produto substitui a troca de encanamento, cujo custo pode chegar a US$ 1 milhão (R$ 3,1 milhões) por quilômetro. Mesmo assim, a estimativa da empresa é que o Estado de São Paulo teria de gastar US$ 1,2 bilhão (R$ 3,7 bilhões) no produto para acabar com os vazamentos.
Já a Aquarius-Spectrum desenvolveu um sensor acústico que, acoplado aos hidrantes, capta vazamentos em um raio de 300 metros.
A irrigação por gotejamento, desenvolvida pelos israelenses, já chegou ao Brasil. Ao contrário da irrigação por sprinklers e inundação, comuns por aqui, o método direciona a água para a planta.
Surgida em um kibutz, a Netafim virou uma gigante do ramo, com presença em vários países, inclusive o Brasil.
O diretor de sustentabilidade da empresa, Nat Baraky, 71, está na Netafim desde o início, na década de 1960.
"Naquela época, tentando plantar no deserto, sofríamos uma falha após a outra", conta. Segundo Baraky, a técnica de gotejamento mudou tudo isso.