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Ilha de Paquetá tem cemitério com sepulturas reservadas para pássaros
A pouco mais de 15 km do centro do Rio, 24 tumbas recebem pássaros desde a década de 50
Os túmulos bicentenários –para seres humanos– servem como referência para se chegar à praça onde fica o Cemitério dos Pássaros de Paquetá.
Localizado na ilha de Paquetá –a pouco mais de 15 km do centro do Rio–, o cemitério abriga pássaros como canários, sabiás e pombos.
Os moradores juram que o cemitério é o único para pássaros em todo o mundo.
As 24 tumbas foram colocadas em 1940 pelo artista plástico Pedro Paulo Bruno (1888-1949). Para homenageá-lo, há um busto de ferro na saída do terminal de barcas, principal meio de chegada ao local.
Na ilha, onde transporte é bicicleta e charrete, o cemitério fica na rua Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882), autor que usou Paquetá como cenário para o romance "A Moreninha" (1844).
O cemitério tem ainda uma "vantagem ecológica". "As tampas dos jazigos são móveis. É só colocar o bichinho que, com 15 dias de sol, só ficam as penas. Assim, o túmulo é reutilizado", diz Aldemírio Penha da Encarnação, 85, levantando uma das tampas.
Chamado de Seu Encarnação, mora na região e cuida do local desde a década de 1950. Por anos dividiu a função com o amigo Theófilo de Souza, morto em 2013.
A filha de Theófilo, Marli Coutinho, também herdou a função e treina a neta, de seis anos, para manter o reduto preservado."Todo o trabalho é gratuito, nenhum enterro é cobrado. As pessoas trazem os passarinhos, cavam um buraco e enterram", explica.
Ele lembra de um enterro especial. "Uma garotinha enterrou um passarinho. Ajoelhou e ficou rezando. Foi comovente", afirma.
CONGELADO
Segundo Encarnação, cerca de dez pássaros são enterrados por mês por pessoas que vêm do Brasil inteiro. "Uma vez uma senhora trouxe um papagaio, congelado, de São Paulo. Enterrou e foi embora, comovida".
O local tem um painel com várias poesias sobre aves. O clima poético, cujo silêncio só é quebrado pelo canto dos passarinhos vivos, também é visto no portal de entrada.
Uma placa, com um pássaro desenhado, tem a frase: "estou cantando para alegrar meus companheiros".
O cemitério tem outras funções. Segundo seu zelador, lá são realizados saraus, piqueniques e jantares. "É um cemitério acolhedor, que todos querem estar, ainda em vida. Ao contrário do outro", diz Seu Encarnação, que não gosta de ser chamado de coveiro.