Após morte de delator, Piauí exonera direção de centro
Adolescente foi espancado na cela por jovens que ele citou por estupro coletivo
Dois dos exonerados disseram que fizeram o que dava para ser feito e que prestarão todos os esclarecimentos
O governo do Piauí exonerou nesta segunda-feira (20) toda a direção do CEM (Centro Educacional Masculino), em Teresina (PI), após a morte do adolescente Gleison Vieira da Silva, 17, ocorrida na última quinta-feira (17).
Condenado por estupro coletivo de quatro garotas em Castelo do Piauí (190 km de Teresina), em maio, Gleison foi espancado com socos e pontapés dentro de alojamento do centro de internação.
Ele dividia a cela com três adolescentes que delatou como participantes dos estupros e agressões às meninas –uma delas morreu.
Com idades de 15 a 17 anos, os quatro foram condenados a 24 anos de apreensão –mas, pela lei, devem ser liberados ao completarem 21 anos.
O secretário Estadual de Assistência Social e Cidadania, Henrique Rebelo, abriu processo administrativo para apurar a morte de Gleison.
Foram exonerados o gerente de internação do CEM, Francisco Herbert Neves da Cruz, o coordenador pedagógico, Marivaldo Viana, e o diretor da Unidade de Atendimento Socioeducativo da Secretaria de Assistência Social e Cidadania, Anderlly Lopes.
"É uma medida necessária para o funcionamento do CEM e para que se apurem as responsabilidades", disse o secretário Henrique Rebelo.
A gestão Wellington Dias (PT) comunicou que o capitão Anselmo Portela, ex-diretor da Casa de Custódia, maior presídio do Piauí, ficará na função de diretor do centro educacional.
A secretaria diz que ainda não tem nome para o cargo de Herbert Neves. Emerson de Oliveira, que era diretor do Ceip (Centro Educacional de Internação Provisória), assumirá interinamente o cargo de coordenador do CEM.
OUTRO LADO
Herbert Neves disse que adotou todas as medidas dentro das condições do centro. "Se não tivesse adotado as medidas, os quatro [adolescentes] estariam mortos. Não dependia de mim, mas do sistema, que está superlotado."
"Estou tranquilo e vou prestar todos os esclarecimentos necessários", disse Marivaldo Viana.
A Folha não conseguiu contato com Anderlly Lopes.
NO CHÃO
Inspeção realizada nesta segunda-feira (20) pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil, secção Piauí) constatou superlotação no CEM.
O grupo de advogados recebeu denúncias de que internos dormem no chão ou em pedras de cimento.
Relatório da Ordem revela ainda que o centro de internação, único do Piauí, está há um ano sem colchões e enfrenta problemas de vazamentos e fossas estouradas.