Na zona leste, casais andam de Kombi e pegam senha
Vizinho ao metrô e concorrido, motel Messalina tem uma sala de espera
Aos mais apressados, estabelecimento oferece carona até filial que fica no mesmo bairro e não tem fila
Oito casais esperam ansiosos o barulhinho da senha que abrirá a porta de uma noite de sábado mais animada. A TV exibe o "Jornal Nacional", mas poucos levantam a cabeça para as notícias do dia. O foco é outro.
Mais um casal entra a pé, e a atendente do motel tenta ajudar. "Se vocês não quiserem esperar, temos uma filial. Podemos levar vocês até lá", sugere. "Nós vamos", diz o casal, apressado.
Uma Kombi branca estaciona ao lado, dirigida por um homem de quase dois metros de altura. A atendente vai até a sala de espera, onde os casais ainda aguardam a senha libertadora. Tenta seduzi-los. Na filial não tem fila, não tem senha. É só entrar e...
No Messalina, motel popular no Tatuapé (zona leste), é assim: a pressa não ajuda ninguém. O simpático predinho cinza fica a poucos metros do shopping do bairro e da estação de metrô e trem.
A localização e o preço fazem o Messalina ser concorridíssimo. Virou "point da ZL". Os casais chegam a pé, pois a área de estacionamento é pequena. Se as suítes ficam cheias, sobra aguardar a senha na sala de espera, tipo consultório dentário.
Ou então pegar a Kombi, dar um passeio pelo Tatuapé até a filial, o Amaralina. Se o dia estiver agitado, o veículo vai cheio.
"Parece que você entrou em um elevador cheio de estranhos. Só falta aquela musiquinha tipo Kenny G [saxofonista norte-americano]", brinca o vendedor Herlix Roberto da Costa, 27, que frequentou o Messalina quando era mais jovem.
"Eu achava bastante constrangedor ficar naquela sala. Todo mundo ficava olhando para baixo, querendo fugir dali", diz a atendente Juliana (nome fictício, a pedido dela).
Depois que pegou a Kombi ela nunca mais entrou no Messalina. "Agora é engraçado, mas na época achei horrível", diz, rindo.
'CAMINHA'
O preço do Messalina é atraente: a suíte Rodes sai por R$ 30 na primeira hora. Há outras, como Mikonos e Creta, um pouco mais caras.
Herlix lembra a situação um tanto "precária" das suítes. "Parecia um quartinho dos fundos. Um lavabo e uma caminha", diz. O Messalina foi reformado recentemente.
As suítes Rodes, por exemplo, agora têm televisão com dois canais "privês", circulador de ar (eufemismo para ventilador), réplicas de quadros de Romero Britto e rádio FM e AM –para quem antes não prestou atenção no "Jornal Nacional" e quer se informar depois de...
"Era uma época gostosa. Eu estudava perto e não queria ser visto no motel. Mas não tinha jeito, sempre encontrava algum conhecido. O Messalina é um clássico, foi o primeiro motel de muita gente da ZL", diz Herlix.
O dono não quis dar entrevista. No painel luminoso na frente, está escrito "Hotel", com aquele H meio puxado para o M, característica de muitos motéis da cidade.
O folheto de divulgação informa: "Hotel tipo motel. Dentro da cidade. Nós alugamos o espaço. A imaginação é sua..."