Fechar avenida é marketing e traz prejuízo, diz associação
Segundo entidade, faturamento caiu nos dias em que Paulista foi bloqueada
Especialista afirma que medida não afeta tráfego na região; shopping centers não quiseram comentar
Entidade que atua como porta-voz de empresários, comerciantes e moradores da região da avenida, a Associação Paulista Viva diz que a iniciativa da gestão Fernando Haddad (PT) de fechar a via para carros aos domingos é apenas uma ação de marketing.
"Já estamos sendo procurados por várias entidades. Jornaleiros, taxistas, hotéis, estacionamentos. Todos eles são unânimes: o prejuízo é muito grande", afirma a presidente da associação, Vilma Peramezza. "Nos restaurantes, o movimento cai de 30% a 40%", completa.
Segundo a entidade, os prejuízos foram registrados no dia 28 de junho, quando a via ficou fechada para a inauguração da ciclovia, e no último domingo (16), devido aos protestos contra a presidente Dilma Rousseff.
Para ela, a cidade tem outras opções de lazer, como praças, parques e o centro velho.
"Por que a Paulista? Porque dá ibope, porque é marketing, porque fazer polêmica na Paulista dá imprensa", afirma. "Eu não acredito que [na prefeitura] estejam preocupados com o lazer de ninguém."
As declarações de Vilma mostram forte mudança de tom da associação em relação ao tema. Até então, antes do anúncio desta terça-feira (18) de Haddad, ela vinha mantendo um discurso de diálogo com a prefeitura.
Numa linha de ruptura com a gestão petista, a presidente da entidade afirma que o fechamento da via "é uma discussão falsamente ideológica" e que os contrários são acusados de elitistas. "A Paulista é a avenida mais democrática que existe, recebe gente de todas as partes."
Vilma disse também que a prefeitura se limitou a fazer um estudo de trânsito, sem medir outros efeitos.
Informada sobre as críticas, a prefeitura afirmou em nota que, "em uma eventual abertura permanente da Paulista [para pedestres] aos domingos, serão levados em conta os resultados dos dois testes e as considerações de todos os atores envolvidos".
A Folha procurou os quatro shoppings da região da avenida. Só o Pátio Paulista respondeu. Segundo o centro comercial, a "preocupação" é como será o acesso de carros aos domingos, "segundo melhor dia de movimento".
Já a maioria dos hospitais afirma que não há problema no bloqueio aos domingos.
"Não afeta o trânsito significativamente. Há várias vias laterais à Paulista que podem ser usadas", afirma Luiz Carlos Néspoli, engenheiro e superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).
Segundo ele, vias como Estados Unidos, Vergueiro, Nove de Julho e Oscar Freire podem ser usadas para este fim, tanto pelos carros como pelas linhas de ônibus. "Só precisa garantir acesso aos hospitais", completa.
"É uma medida que ajuda a humanizar São Paulo. Você percebe melhor os problemas da cidade com o pé no asfalto, até para cobrar melhor o poder público", afirma Silvia Stuchi, especialista em mobilidade a pé.