Família de herói da Catedral da Sé critica ação da polícia
Segundo eles, PM deveria ter evitado luta com homem que mantinha refém
Morte de duas pessoas nas escadarias de igreja será alvo de apuração da Polícia Militar, que não comentou críticas
Familiares do homem que salvou uma refém mas acabou morto a tiros na escadaria da Catedral da Sé na tarde de sexta-feira (4) criticaram a ação da Polícia Militar.
Segundo eles, os policiais deveriam ter cercado o local e evitado que o pedreiro Francisco Erasmo de Lima, 61, subisse as escadarias da igreja e entrasse em luta corporal com Luiz Antonio da Silva, 49.
Silva estava armado com um revólver e uma chave de fenda e mantinha refém a balconista Elenilza Martins, 25.
A jovem conseguiu escapar assim que Francisco Lima se jogou em cima de Silva. O pedreiro levou dois tiros e caiu morto ao lado do portão de madeira da catedral, enquanto Silva foi morto por PMs e um guarda municipal que faziam ronda na região.
Ex-mulher do pedreiro, a auxiliar de limpeza Isabel Rodrigues, 58, avalia que a polícia demorou a agir.
"Eles [PMs] deveriam ter ido prender o cara [Silva] e não ter deixado ele [Francisco] passar na frente para tomar tiro. Então acho que foi falha, sim, do policial", disse a ex-mulher neste sábado.
Um dia antes, ela soube da morte do ex-marido pela TV, após ligação de uma filha.
Todo o episódio, com duas mortes em um dos principais cartões-postais da cidade, será alvo de investigação da própria PM e da Polícia Civil.
Em nota neste sábado (5), a Secretaria Estadual da Segurança Pública afirmou que "a ação desenvolvida na praça da Sé era de elevado grau de complexidade pela extensão da área, pela velocidade dos acontecimentos e pela agressividade do autor".
Segundo a mesma nota da secretaria estadual, "alguns policiais conseguiram chegar rapidamente e evitar uma tragédia ainda maior."
SEPARADOR DE BRIGAS
A atitude de Francisco, pai de três filhos, não surpreendeu os familiares. "Quando tinha uma discussão ele sempre falava para o pessoal não brigar. Ele sempre separava as brigas", conta Isabel.
Francisco atualmente fazia bicos de pedreiro e costumava dormir em albergues no centro. Mesmo assim, matinha contato com a família.
Filha dele, a operadora de caixa Juliane da Silva, 32, afirma que ficou sabendo pelo WhatsApp da morte do pai. Foi aí que ligou a televisão e acompanhou toda a ação.
"Vi a atitude do meu pai de herói. Ele foi certo, mesmo que tenha morrido e tudo", disse ela, com um jornal que contava a tragédia debaixo do braço. "Ele sempre tentou ajudar os outros, mas essa atitude acabou com a vida dele".
Herói da Sé, Francisco tinha uma longa ficha criminal, com ao menos quatro casos.
O primeiro deles é uma prisão em flagrante por homicídio doloso ocorrido em 1980. Depois disso, segundo informações da polícia, ele também foi processado em 1995 por periclitação de vida (por colocar a vida de pessoas em risco), em 1998 por incêndio e em 2000, por receptação.