Greve de universidades resiste após 106 dias e afeta até emprego de aluno
Maioria das instituições federais ainda é prejudicada por paralisação de funcionários ou professores
Aulas e biblioteca são comprometidas, e estudantes perdem oportunidades; MEC afirma buscar solução
Faltavam três meses para Renan Lopes, 28, se formar em engenharia civil pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e começar a carreira. A formatura ocorreria neste mês. Mas a greve nas universidades federais, que já passou de cem dias, fez com que ele perdesse uma promessa de emprego. E agora corre o risco de perder a segunda.
"As oportunidades que estou perdendo me deixam indignado, porque o mercado está muito difícil", diz, preocupado, o baiano de Jequié.
Gabriel Lisboa Nakamura, 23, aluno da mesma instituição, também perdeu duas propostas de estágio e conta que colegas perderam bolsas de monitoria.
Como Renan e Gabriel, estudantes de universidades federais pelo país enfrentam o 106º dia de greve, completado nesta quinta-feira (10).
A paralisação dos funcionários, iniciada em maio, atinge 60 de 63 instituições e seis institutos federais, segundo a Fasubra (federação de sindicato dos servidores).
Há professores de braços cruzados em 37 universidades, informa a Andes (sindicato dos docentes), e em quatro institutos federais.
O MEC (Ministério da Educação) diz que procura uma solução e que "mantém diálogo com entidades".
Além da falta de aulas, serviços como bibliotecas, laboratórios e restaurantes universitários estão fechados.
Servidores e alunos da UnB (Universidade de Brasília) relatam que na biblioteca, onde trabalham cerca de cem funcionários, menos de dez estão em atividade. Na UFBA (Bahia), o local está fechado.
Já na UFSCar (São Carlos), no interior paulista, nenhum serviço ligado ao setor acadêmico está funcionando, diz o sindicato. Na UFTM (Triângulo Mineiro), até os alunos interromperam as atividades.
"Apesar de o serviço de limpeza ser terceirizado, há locais imundos. Fora a instabilidade na grade escolar, com a greve parcial dos docentes", relata Wisner Freitas Araújo, 23, aluno do curso de matemática.
Docentes dizem que o corte no orçamento do MEC teve impacto direto no cotidiano das faculdades. Foram 11% a menos de verba para custeio (contas de água, luz, terceirizados de limpeza e segurança, por exemplo) e corte de 46% nos investimentos.
"Tivemos elevador parado por um mês por falta de verba para conserto, ar-condicionado quebrado sem reparo. Falta reagente para laboratórios e até papel higiênico", disse Renata Vereza, do sindicato dos docentes da UFF (Universidade Federal Fluminense).
A adesão não é total. Enquanto algumas instituições já encerraram a greve, como a UFRJ, em outras a paralisação começou no mês passado, caso da UFPR (Paraná).
Os servidores querem 27,3% de reajuste, sob a alegação de repor perdas salariais dos últimos anos. Já rejeitaram uma proposta de reajuste escalonado de 21,3%, a ser pago de 2016 a 2019, e agora avaliam uma nova proposta, de 10,8%, diluída em dois anos, segundo Rogério Fagundes Marzola, coordenador-geral da Fasubra.
Docentes reivindicam no mínimo a reposição da inflação. "É a pior situação em termos de falta de verbas que as federais já enfrentaram", disse Paulo Rizzo, presidente da Andes (entidade que representa os professores).