Mistério sobre fim de escolas alimenta protestos de alunos
Vinte dias após anúncio de mudanças, governo de SP diz ainda estudar quais colégios terão turmas fechadas
Boatos se espalham em unidades do Estado; sindicato de docentes cede ônibus, faixas e cartazes a estudantes
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) tem mantido mistério sobre quais escolas públicas do Estado poderão sofrer mudanças nos ciclos de ensino a partir de 2016 –a reorganização pode fechar colégios e fazer com que alunos tenham de ser transferidos.
Vinte dias depois do anúncio, diretores e a secretaria da Educação ainda discutem quantos e quais colégios vão sofrer mudanças.
A discussão criou uma rede de boatos e preocupação que fez multiplicar os protestos de alunos e pais contra a medida. O novo plano vai atingir cerca de 1 milhão de alunos no Estado.
Os atos são organizados pela Umes (união dos estudantes secundaristas) e pela Apeoesp, sindicato dos professores. A entidade dos docentes, crítica à medida, cedeu ônibus, cartazes e faixas de protesto aos alunos.
"Eles têm nosso apoio direto. Como vão fazer faixas? Panfletos? Eles não têm como fazer. Estamos juntos, pais, alunos e professores", diz Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp.
O objetivo da mudança é que a maioria das unidades ofereça classes de apenas um dos três ciclos do ensino básico –anos iniciais (1º ao 5º) e finais (6º ao 9º) do ensino fundamental e ensino médio. Hoje, um terço das escolas estaduais funciona assim.
Com a medida, uma região com três escolas terá uma unidade para cada etapa. Dessa forma, muitos alunos terão que mudar para escolas que atendam apenas aos seus ciclos.
Outras unidades serão fechadas –vão abrigar cursos técnicos ou virar creches.
A secretaria da Educação afirma que o aluno que precisar ser transferido irá para um colégio a até 1,5 km do endereço anterior. A pasta diz, ainda, que analisa a situação de 3.600 das 5.108 escolas em todo o Estado. Cerca de mil devem sofrer mudanças.
A lista de unidades afetadas pela medida será concluída até o próximo dia 23, prazo para as diretorias de ensino apresentarem sugestões.
Os alunos ficarão sabendo se precisarão mudar no dia 14 de novembro, em reuniões nas próprias escolas.
CONFUSÃO
Nesta terça-feira (13), dois protestos ocorreram na porta da secretaria da Educação, na praça da República, no centro de São Paulo. O primeiro, pela manhã, reuniu representantes de oito escolas.
O outro, à tarde, teve cerca de 200 estudantes da escola Jornalista Carlos Frederico Werneck Lacerda (Pirituba).
Pais e estudantes da unidade disseram que a direção avisou que ela será fechada.
"Qual a logística desse plano de fechamento? Quem levará nossos filhos para as escolas? Não há comunicação, não sei o que vai acontecer", diz o autônomo Carlos Couto, 36, pai de dois alunos.
Na semana passada, também houve manifestações. Em uma delas, no centro da cidade, duas pessoas foram detidas pela polícia.
Alunos e funcionários da escola Padre Saboia de Medeiros, por exemplo, participaram do ato.
"Nossa diretora foi avisada que a escola será fechada", afirmou um servidor, que não quis se identificar.
Segundo a secretaria, no entanto, a escola não está na lista de 3.600 que estão sendo analisadas para a mudança.
Outros protestos ocorreram em frente a diretorias regionais de ensino, nas zonas leste e sul.