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O amor segundo a ciência
Pesquisadores apontam que humanos farejam parceiros antes de amá-los, que paixão mexe com o cérebro como a cocaína e até propõem receita infalível para um casal se envolver
Não é obra do destino nem resultado de uma conjunção astral. Segundo a ciência, o que faz uma pessoa se apaixonar por outra é uma mistura de fatores biológicos e sociais, já testados e comprovados por estudos no mínimo curiosos.
Por exemplo: para provar que opostos se atraem, um trabalho de pesquisadores suíços descobriu a capacidade humana de "farejar" diferenças genéticas até em camisetas suadas.
As voluntárias relatavam que o cheiro dos homens com o sistema imunológico mais diferente era mais agradável. Inconscientemente, ao buscar parceiros com tal característica, estamos fazendo com que nossos filhos tenham um arsenal imunológico mais variado, e assim sejam mais resistentes a doenças.
Outro estudo, do psicólogo americano Arthur Aron, foi mais ousado: propôs nada menos que uma receita para deixar duas pessoas apaixonadas. Trata-se de uma lista de 36 perguntas, várias bem pessoais, que os voluntários deveriam fazer um para o outro. Sua teoria: a rápida transição do desconhecimento para a sensação de intimidade está fortemente ligada à paixão.
Entre as perguntas, estão coisas como "quando foi a última vez que você chorou na frente de alguém?", "qual é a maior conquista que você já conseguiu?" e "diga algo que você gostou em mim que você não deveria dizer a alguém que acabou de conhecer". Veja a lista: folha.com/no1607639.
A receita funcionou para a professora americana Mandy Len Catron, que recentemente relatou seu final feliz em um artigo no "New York Times". Ela própria, porém, faz uma ressalva à fórmula: se duas pessoas se dão ao trabalho de sentar numa mesa e testar uma receita de paixão, afinal, é porque elas já estão no mínimo bem dispostas sobre a possibilidade.
No campo da bioquímica, vários pesquisadores tentam rastrear quais substâncias fazem o cérebro emitir a sensação de paixão.
São várias: a ocitocina, hormônio relacionado à maternidade, mas também ao vínculo entre um casal, a dopamina, neurotransmissor liberado durante atividades prazerosas --ou durante o uso de cocaína--, e os opioides, também ligados ao prazer e... bom, ao uso de heroína.
"O sistema de recompensa do cérebro faz uma conexão entre características do parceiro e as sensações. É como se nos tornássemos viciados no nosso amante", afirma Larry Young, professor da Universidade Emory (EUA) e autor de "A Química entre Nós" (Best Seller, 350 págs., R$ 45).
fatores sociais
Se a biologia quer puxar a brasa da paixão para o seu lado, a antropologia estuda as consequências da natureza humana na sociedade.
Josefina Pimenta Lobato, autora de "Antropologia do Amor" (Autêntica, 144 págs., R$ 44), aponta várias características sociais comuns em relacionamentos amorosos.
"O sucesso econômico, no caso dos homens, exerce atração nas mulheres; já a beleza das mulheres é um fator importante para eles. A atração por pessoas da mesma classe social é outro ponto a ser considerado, a maior parte dos casamentos se faz assim."
O psicólogo Ailton Amélio, professor da USP especializado em relacionamentos amorosos, lembra que diversos estudos já mostraram que o amor acontece entre pessoas próximas, tanto no aspecto físico (entre moradores de um mesmo bairro, por exemplo), quanto ideológico, social e econômico.
"Em geral, o amor está mais perto do que você pensa, ou seja, em um certo raio de distância", afirma.
Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, mais do que proximidade, é preciso aceitar perder o controle da situação.
"Para se apaixonar é necessário um grau de desprendimento e entrega. Conheço pessoas completamente refratárias à paixão. Se você estiver no controle o tempo todo, é possível passar pela vida ileso a esse sentimento."
Apesar de tantas teorias, o psicanalista Jorge Forbes acredita que o fator mais interessante da paixão não esteja ao alcance da ciência: "Não nos apaixonamos por quem queremos e as pessoas das quais gostamos nem sempre nos apaixonam por nós. Isso é o mais inquietante e insolúvel."
VERDADE OU DESAFIO
Responder a 36 perguntas pode fazer um casal de estranhos se tornar tão íntimos a ponto de se apaixonarem, segundo o psicólogo americano Arthur Aron. São três blocos de perguntas pessoais, que devem ser respondidas em 45 minutos. A lista foi testada e publicada no "Personality and Social Psychology Bulletin"
IMPULSO QUÍMICO
O sexo pode levar à paixão, explica o bioquímico americano Larry Young, autor de "A Química entre Nós". Três substâncias químicas liberadas durante o ato sexual fazem com que a pessoa fique "viciada" no parceiro. São elas: a ocitocina, hormônio relacionado com a maternidade, mas também liberado durante o sexo; a dopamina, neurotransmissor do prazer; e os opiáceos. Segundo Young, o cérebro conecta seu centro de recompensa com informações do parceiro e se vicia, ou melhor, se apaixona
O PESO DA BELEZA
A atração é uma questão de simetria, segundo estudos da psicóloga Gillian Rhodes, da Universidade da Austrália Ocidental. Em um dos seus trabalhos, publicado na revista "Psychonomic Bulletin & Review" ela analisou as percepções de 252 pessoas frente a fotografias de rostos editadas para parecerem mais simétricos. Quanto mais simétrico o rosto, mais ele foi classificado como atrativo
CULPA DO DNA
O dedo podre para escolher pretendentes pode ser culpa da genética. Um estudo da Universidade de Pavia, na Itália, analisou o perfil genético de 350 jovens. Eles também responderam a um questionário. Houve uma relação entre um gene relacionado ao neurotransmissor dopamina e uma tendência a ter relações de caráter sexual intenso, baseadas na atração física
COMPANHEIRO POLÍTICO
A visão política pode ser decisiva na escolha de um parceiro, segundo estudo publicado no "Journal of Politics", em 2011. Cientistas analisaram o comportamento e a história de mais de 5.000 casais nos EUA e descobriram que os cônjuges escolheram pessoas com visões políticas semelhantes. Isso foi até mais determinante do que traços de personalidade
OPOSTOS SE ATRAEM?
Segundo a genética, sim. Um trabalho conhecido como estudo da "camiseta molhada" descobriu que há mais atração pelo cheiro de suor de alguém quando a diferença genética é maior. Ao buscar pessoas com sistema imunológico diferente --de maneira inconsciente, claro--, fazemos com que nossos filhos tenham um arsenal imunológico variado e sejam mais resistentes a doenças