Eleições 2014
Acusações pessoais dominam debate entre candidatos
Dilma insinuou que o adversário foi apanhado dirigindo 'sob álcool e droga' e que beneficiou parentes
Tucano afirmou que um irmão da presidente foi funcionário fantasma da prefeitura petista de Belo Horizonte
No embate mais virulento da atual campanha, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) levaram acusações pessoais para o centro do debate na quinta-feira (16), em um clima que remete ao da reta final da disputa entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, 25 anos atrás.
Enquanto a petista insinuou que o oponente foi apanhado dirigindo "sob álcool e droga" e que beneficiou parentes, o tucano afirmou que um irmão de Dilma foi funcionário fantasma da Prefeitura de Belo Horizonte quando era governada pelo PT.
O debate organizado pelo SBT, pelo portal UOL, empresa do Grupo Folha, e pela rádio Jovem Pan foi marcado por manifestações exaltadas. Dilma chegou a passar mal no final e interrompeu uma entrevista para se sentar.
Em meio aos ataques sofridos durante o evento, Aécio acusou a adversária e o PT de reeditar a tática da qual foram alvos em 1989.
Na ocasião, a campanha de Collor levou à propaganda eleitoral, na reta final, um depoimento de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula. No vídeo, ela o acusou de ter sugerido que abortasse a criança que viria a ser sua filha Lurian.
"Candidata, não me meça com sua régua. [...] A senhora infelizmente tem permitido ao Brasil ver a mais baixa campanha da sua história democrática, a partir da primeira eleição que tivemos, de Collor", afirmou Aécio.
Apesar de ter aberto a campanha do 2º turno dizendo que não iria partir para ataques pessoais, Dilma adotou linha martelada por boa parte de sua militância na internet, a de abordar pontos polêmicos da trajetória de Aécio.
Ao questionar o adversário sobre a Lei Seca, ela quis levar à tona episódio de 2011 no qual o tucano se recusou a fazer um teste do bafômetro quando foi apanhado no Rio dirigindo com a carteira de habilitação vencida.
Aécio se exaltou: "Candidata, tenha coragem de fazer a pergunta direta. [...] Eu tive um episódio em que parei numa Lei Seca porque minha carteira estava vencida e ali naquele momento inadvertidamente não fiz o exame, me desculpei, me arrependi disso".
Na réplica, Dilma afirmou: "Eu, candidato, não dirijo sob álcool e droga".
Em outro momento do debate --que, como todos os desta fase, não teve perguntas de jornalistas-- o tema nepotismo voltou à tona.
Diante da afirmação de que empregou parentes no governo de Minas, Aécio disse que a irmã Andrea Neves, uma de suas principais auxiliares, fez trabalho voluntário em sua gestão em MG (2003-2010).
E acusou o irmão de Dilma, Igor Rousseff, de ter sido funcionário fantasma da Prefeitura Belo Horizonte durante a gestão do hoje governador eleito Fernando Pimentel, amigo de Dilma. Igor foi designado assessor especial do gabinete do prefeito de BH em setembro de 2003. Quando se desligou da prefeitura, em dezembro de 2008, ocupava o cargo de assessor especial da Secretaria de Planejamento.
Pimentel afirmou, no Twitter: "Ele é advogado e trabalhou com regularidade e eficiência na prefeitura e na procuradoria do município".
Assim que o debate terminou, Aécio falou por telefone com Marina Silva (PSB), terceira na disputa e que declarou apoio a ele. "Todo mundo comete erro, eu também erro", disse o tucano, supostamente se referindo ao caso do bafômetro.
Os petistas defenderam a estratégia de Dilma. "Não fizemos ataques pessoais. A presidente falou de uma lei, a Lei Seca, se o candidato reconheceu uma condição particular, o problema é dele", afirmou o ministro Miguel Rossetto, um dos principais coordenadores da campanha.
O escândalo da Petrobras também foi tema central no debate. A revelação feita pela Folha de que o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa acusou o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto em março deste ano) de receber propina para abafar uma CPI sobre o caso foi usada por Dilma.
No primeiro intervalo, a petista foi informada pelo seu marqueteiro, João Santana, de que a notícia estava no ar. Ela então abordou o tema: "O que importa quando a gente verifica que o PSDB recebeu propina para esvaziar uma CPI, o que importa, candidato?
Aécio ironizou, afirmando que finalmente Dilma dava credibilidade às informações do ex-diretor, que tem acusado partidos aliados ao governo de terem sido beneficiados de desvios na estatal.