Dilma afirma não saber quem cometeu desvios
Presidente diz que há 'indícios claros' de que houve corrupção na Petrobras
Aécio chamou de 'um avanço talvez um pouco tardio' o reconhecimento da petista sobre a estatal
A presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), disse neste domingo (19) que, apesar de existirem "indícios claros" de que houve desvio de dinheiro na Petrobras, ainda não se sabe "quem de fato cometeu esses crimes".
A declaração foi dada em entrevista coletiva em São Paulo após a petista ter sido questionada sobre o suposto envolvimento de sua ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, no escândalo envolvendo a estatal.
"Os indícios são claros de que houve desvio, senão não teria havido delação premiada [do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa], nem essa investigação. Mas não sei, nem aqui ninguém sabe, quanto [foi desviado], nem quem [desviou]", disse.
Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-diretor Paulo Roberto Costa disse ao Ministério Público Federal que o esquema de corrupção na estatal repassou R$ 1 milhão para a campanha da ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao Senado nas eleições de 2010. Gleisi nega.
Eleita para o Senado naquele ano, Gleisi licenciou-se para assumir o cargo de ministra-chefe da Casa Civil com a posse da presidente Dilma Rousseff. Nas eleições deste ano, Gleisi concorreu ao governo do Paraná e terminou a disputa em terceiro lugar.
Para Dilma, todas as informações que existem até agora sobre o caso são provenientes de "vazamentos de todos os lados". E, apesar de ponderar que não se sabe se "os vazamentos são ou não efetivos", afirmou que "se forem consistentes, todo mundo está comprometido".
Dilma afirmou ainda que irá tomar "todas a medidas" para garantir o ressarcimento da Petrobras e "para que quem desviou o dinheiro seja punido".
Acesso
A petista chegou a pedir acesso às informações da delação ao Ministério Público e ao ministro Teori Zavascki, do STF, responsável pelo processo, mas ambos alegaram "sigilo" da operação.
"Se eu não posso saber o que foi revelado na delação, por que alguém pode?", questionou ao se referir aos vazamentos. "Eu tenho interesse em proteger o governo disso. Quero tomar as providências para que o governo não sofra consequências", completou.
Neste sábado (18), a presidente admitiu pela primeira vez que houve desvio de recursos na Petrobras.
"Farei todo o meu possível para ressarcir o país. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não. Houve, viu?", afirmou a presidente.
O senador Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB, afirmou neste domingo (19) que a admissão de Dilma sobre desvios na Petrobras é "um avanço" tardio.
"Reconheço que é um avanço a presidente pelo menos admitir que isso aconteceu. Talvez um pouco tarde, mas admissão é algo positivo.", disse o senador, antes da caminhada na praia de Copacabana, zona sul do Rio.
O tucano, contudo, cobrou posicionamento de Dilma em relação às citações ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no depoimento de Paulo Roberto Costa.
"Não vi até agora uma atitude da presidente em relação àquele denunciado pelo ex-diretor da Petrobras como receptor da parcela que caberia ao PT, que é seu tesoureiro".
O candidato do PSDB lembrou a resistência de parlamentares do PT em criar uma CPI para investigar a corrupção na estatal.
"O discurso do PT era de que aquilo era um factoide. Não existia nada daquilo. Quantas vezes eu ouvi que o Aécio queria denegrir a imagem da Petrobras?"
Um carro de som da campanha do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) acompanhou a carreata. O candidato à reeleição ao governo do Rio não foi ao evento. Ele afirma apoiar Dilma, mas tem o apoio do PSDB.
(MARINA DIAS, ITALO NOGUEIRA e SAMANTHA LIMA)