Eleições 2014
Subsecretário do AM pede votos a preso para reeleger governador
Em conversa com integrante da Secretaria da Segurança, traficante promete apoio a José Melo (Pros)
Assessor, que perdeu o cargo, prometeu em diálogo gravado que 'ninguém vai mexer' com os criminosos
Um membro da cúpula da Segurança Pública no Amazonas perdeu o cargo nesta segunda-feira (20) após a divulgação de conversa em que negocia, com um preso, apoio de uma facção criminosa ao governador José Melo (Pros), que disputa a reeleição.
O diálogo se dá entre o então subsecretário de Justiça, major Carliomar Brandão, e o traficante José Roberto Barbosa, líder de facção que controla o tráfico no Estado.
A conversa, divulgada pela revista "Veja" no domingo (19), ocorreu no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, na última semana antes do primeiro turno. Um dos integrantes da reunião fez a gravação.
O traficante promete até 100 mil votos a Melo para que ele não os "prejudique". Em troca, o representante do governo diz que "ninguém vai mexer" com os criminosos.
"A mensagem que ele [governador] mandou para vocês, agradeceu o apoio e que ninguém vai mexer com vocês, não", diz o major.
"Vamos apoiar o Melo, entendeu... a cadeia... vamos votar minha família toda, lá da rua, entendeu? [...] A gente quer dar um alô, que ele não venha prejudicar e nem mexer com nós [sic]", afirma o traficante. O major responde, sem citar Melo, que "ele não vai, não [prejudicar]".
O traficante exige que integrantes da facção não sejam mortos por policiais.
"O que a gente quer do Melo? Que a polícia faça o trabalho dela, se prender um de nós com droga, a gente vai respeitar. A gente não quer que fique matando", disse.
E completa: "O recado que quero que o senhor leve para ele de nós é que vamos apoiar ele [sic]". Em resposta, Brandão diz que "o que ele [Melo] quer é a paz na cadeia".
Ao prometer votos, o traficante diz que para isso basta uma ordem da facção a parentes de presos: "Acho que de voto ele vai ter de nós mais de 100 mil votos, estou te falando", diz o criminoso. "Então para a próxima vocês vão ajudar, né?", pergunta o major.
O detento cita a onda recente de ataques em Santa Catarina, ordenada de dentro de presídios. "Está vendo o que está acontecendo em Santa Catarina? É o comando dos caras, que estão rodando lá por causa do governo dos caras. Aqui a cadeia está tudo em paz porque o governo daqui não mexe com nós."
Em setembro, a Procuradoria Eleitoral já havia pedido a cassação da candidatura de Melo sob acusação de uso da estrutura da Polícia Militar na campanha. Ontem (20) a Procuradoria informou que pedirá apuração da Polícia Federal sobre a nova denúncia.
Segundo pesquisa Ibope da sexta, Melo está numericamente à frente, mas em empate técnico com Eduardo Braga (PMDB): 53% a 47%.
OUTRO LADO
O governo do Amazonas exonerou Brandão e disse que tomará "todas as providências cabíveis" para ter acesso à gravação e submetê-la à perícia. A campanha de Melo informou que pedirá perícia judicial para verificar a autenticidade da gravação.
À "Veja" o secretário de Justiça, Louismar Bonates, disse que sabia da conversa e que o objetivo era "manter a paz dentro da cadeia".