Como ela irá governar
Petista terá de reatar com mercado e conter crise na Petrobras
Relação da presidente com Lula e o PT pode ser tensa em assuntos como a regulação da mídia
Se vencer a eleição, Dilma Rousseff deverá começar o novo mandato na prática já no dia seguinte, tamanha é a lista de problemas a resolver.
Uma vitória é vista por seus assessores mais próximos como a senha para o aprofundamento das convicções de Dilma. Um deles brinca com a letra do clássico "My Way" ("Eu fiz do meu jeito", como cantou Frank Sinatra, que popularizou a canção). "Ela acha que, se ganhar, foi porque fez do jeito dela a campanha e vai conduzir o segundo mandato assim também."
A questão é que essa provável atitude não é compartilhada nem pelo PT, seu partido. Até o seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, espera um contraponto mais político ao que considera o fracasso do modelo de "gestão técnica" no primeiro mandato.
Há outras demandas. O mercado financeiro e o empresariado foram alienados por Dilma nos quatro anos. A expectativa de aliados é que ela acene caso reeleita.
O primeiro movimento esperado é o anúncio do novo ministro da Fazenda, já que o atual, Guido Mantega, foi anunciado como carta fora do baralho por Dilma justamente para tentar acalmar o empresariado, que ora migrou para Marina Silva, ora para Aécio Neves.
Mas isso não deverá bastar para restabelecer expectativas positivas. Auxiliares apostam, e defendem, uma sinalização de ajuste das contas públicas antes de 2015.
Sobre nomes para o comando da equipe econômica, interlocutores presidenciais brincam haver somente duas hipóteses: ou só Dilma sabe, ou nem ela.
Durante o atual mandato, Lula chegou a defender a demissão de Mantega e Arno Augustin (secretário do Tesouro), principais alvos das queixas do mercado.
Mas Dilma ignorou o antecessor e manteve a dupla. Apenas na campanha sinalizou a saída de Mantega, num inédito "aviso prévio".
Segundo interlocutores, Dilma gostaria de surpreender num segundo mandato e, se possível, encontrar alguém próximo do mercado.
Uma das prioridades será restabelecer canal de comunicação com setores da economia, já que a falta de diálogo é constante na avaliação de problemas da gestão.
O principal problema político é a gestão da imagem do governo, desgastada no escândalo da Petrobras.
Além disso, o avanço das investigações decorrentes da Operação Lava Jato ameaça uma crise institucional para Planalto, PT e partidos aliados, a serem confirmados os dados iniciais das delações premiadas do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Dilma também planeja relação mais dura com a base aliada. Para tanto, deverá ampliar o chamado "núcleo duro" de sua administração.
Já há lugares cativos para Aloizio Mercadante (hoje na Casa Civil), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Jaques Wagner, atualmente governador da Bahia. Desses, apenas o último tem trânsito irrestrito com Lula.
O ex-presidente, aliás, é capítulo separado na agenda de Dilma. Se eleita, ela terá de definir o tipo de relação que terá com o antecessor.
Eles já foram mais próximos. Segundo assessores, Dilma avalia ter acertado ao fazer as coisas à sua maneira no governo e dá sinais de que pretende reeditar essa matriz nos próximos quatro anos.
O modelo tende à tensão, porque o grupo paulista do PT, que orbita em torno do ex-presidente, foi derrotado no primeiro turno. Seu candidato ao governo de São Paulo ficou em terceiro lugar, a votação petista foi fraca no Estado e nomes de destaque no Legislativo não se elegeram.
Mais: Lula está disposto a defender suas ideias publicamente (até agora, fez isso nos bastidores), mesmo que elas desagradem a presidente.
Uma delas é o projeto que prevê controle da mídia. A candidata admitiu elaborar proposta de regulação econômica dos meios de comunicação, mas não deu datas nem detalhes. Apenas sinalizou não concordar inteiramente com a versão defendida pelo PT, que para críticos flerta com a censura.