Eleições 2014
Dilma relança reforma política como prioridade
Após vencer disputa acirrada, petista retoma defesa de mudanças no sistema político, agenda que tentou, sem sucesso, levar adiante após manifestações
Depois de enfrentar a mais acirrada disputa eleitoral desde a redemocratização, marcada por reviravoltas, surpresas e ataques pessoais de todos os lados, Dilma Rousseff fez um discurso prometendo união, diálogo e um governo de mudanças.
"Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro da nossa pátria e de nosso povo. Não acredito, sinceramente, que essas eleições tenham dividido o país ao meio", disse Dilma, primeira mulher reeleita à Presidência no país, diante de militantes em hotel de Brasília.
Ao reconhecer que precisa dialogar mais com diversos setores da sociedade, a presidente se comprometeu com a realização da reforma política, o combate à corrupção, o controle da inflação e o crescimento econômico.
Dilma falou que se empenhará para "deflagrar" a reforma política "por meio de um plebiscito". Retoma assim a agenda que tentou, sem sucesso, levar adiante após os protestos de junho de 2013.
Um dos motivos do naufrágio da agenda à época foi o PMDB, principal aliado do PT, ser contra. Se insistir na ideia, Dilma deve enfrentar atritos com o partido.
O discurso foi recheado de agradecimentos ao ex-presidente Lula, que estava a seu lado após um estremecimento relatado por aliados ao longo da campanha. Dilma não fez nenhuma referência ao candidato derrtoado, Aécio Neves (PSDB).
O vice-presidente reeleito, Michel Temer, escanteado durante quase toda a campanha, também ouviu elogios pessoais. Qualquer maioria congressual passa pelo seu partido, o PMDB.
A petista itou o combate à corrupção, tema em evidência com o escândalo da Petrobras que gera sombras sobre o PT e aliados. "Terei um compromisso rigoroso com o combate à corrupção e com a proposição de mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade".
Dilma insistiu em convergência política, apesar do placar apertado que rachou o eleitorado. "Algumas vezes na história, os resultados apertados produziram mudanças mais fortes e rápidas do que as vitórias amplas. É essa a minha esperança".
Brigando com microfones disfuncionais, Dilma prometeu mudar de perfil, considerado autoritário pelos aliados. "Esta presidente está disposta ao diálogo. Esse é meu compromisso do segundo mandato", afirmou, para depois ouvir o coro da plateia de "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Críticas à "Veja" e frases como "mídia fascista" também foram ouvidas.
Reeleita, Dilma admitiu que o país quer mudanças e que quer ser uma presidente "muito melhor". "Algumas palavras e temas dominaram essa campanha. A palavra mais repetida, mais dita, mais falada, mais dominante foi mudança. O tema mais amplamente evocado foi reforma."
Por fim, fez referência ao Hino Nacional e ao seu passado de militante da luta armada ao dizer que "Brasil, mais uma vez essa filha tua não fugirá da luta".
A tensão acompanhou o comitê de Dilma até a divulgação dos resultados. Vitoriosa, ela comemorou com Lula e ministros próximos.
"Ganhamos", disse a Lula, segundo relatos. O ex-presidnete, que faz aniversário nesta segunda (27), ganhou um bolo dos colegas.
Economista, a petista vai para seu segundo mandato depois de ser ministra de Minas e Energia de Lula, ter ocupado a Casa Civil após José Dirceu deixar o posto na esteira no mensalão e ter sido alçada candidata à presidência em 2010 pelo seu antecessor.
Líder nas primeiras pesquisas eleitorais, Dilma viu o cenário virar em agosto, após a morte de Eduardo Campos (PSB) alavancar Marina Silva. O PT, então, operou uma desconstrução de Marina.
Deu certo, mas Aécio Neves (PSDB) emergiu com força no segundo turno. A virada numérica na vantagem de Dilma só veio na semana passada, às vésperas da eleição.