Tucanos culpam MG por revés de Aécio
PSDB mineiro esperava conseguir ampla vantagem no Estado e credita derrota nacional ao desempenho no próprio reduto
'Obviamente erramos', afirma presidente do partido em Minas, onde Dilma Rousseff ganhou em 71% das cidades
A cúpula do PSDB mineiro credita a derrota de Aécio Neves na eleição presidencial ao mau desempenho no próprio quintal, Minas Gerais.
Para a tropa de choque do candidato no Estado, Minas "falhou" com Aécio e foi o "calcanhar de Aquiles" na votação do tucano, que foi governador de 2003 a 2010.
"Minas falhou com um grande estadista", afirmou Danilo de Castro, ex-secretário de Governo de Aécio.
Antes do início da campanha, os tucanos estimavam uma "votação histórica" para Aécio em MG --vantagem acima de 3 milhões de votos.
O senador, porém, perdeu para Dilma nos dois turnos --ficou 412 mil votos atrás da petista no primeiro e 548 mil votos atrás na etapa final.
"Nem na pior projeção pensamos nesse resultado, após o Aécio sair do governo com 92% de aprovação [segundo Vox Populi de março de 2010]", disse Marcus Pestana, presidente do PSDB-MG. "Obviamente erramos e temos que descobrir o erro, mas não é hora", completou.
Aécio perdeu para Dilma em 8 das 12 mesorregiões de Minas e em 608 dos 853 municípios (71% do total).
Ganhou na Grande BH, centro, oeste e sul/sudoeste, região de influência de São Paulo, onde teve 57% dos votos, seu melhor desempenho.
Dilma teve mais votos no no Norte mineiro, área mais pobre --71% das preferências.
Em relação ao Bolsa Família, a cobertura média nas regiões em que Aécio venceu é de 14%, ante 27% naquelas em que o PT predominou --a média estadual é de 20%.
O critério socioeconômico, porém, não explica tudo. Dilma ganhou, por exemplo, no Triângulo Mineiro, região de forte presença do agronegócio e com maior PIB per capita do Estado: R$ 30.112.
DERROTA DUPLA
O revés mineiro de Aécio foi duplo: os tucanos também perderam o poder estadual após 12 anos, com a derrota de Pimenta da Veiga para o ex-ministro de Dilma Fernando Pimentel (PT).
Para o sociólogo Rudá Ricci, pesou no resultado o desarranjo do PSDB, que apostou em Pimenta numa opção pessoal de Aécio. O tucano estava afastado da política havia dez anos e não foi unanimidade entre aliados.
Enquanto isso, o PT mineiro pacificou as correntes internas pela primeira vez em anos em torno de Pimentel.
Ricci também cita o fato de Pimentel ser o "candidato mais tucano dos petistas", que projetava uma transição tranquila aos olhos de líderes municipais. Em 2008, Aécio e Pimentel se aliaram na eleição em Belo Horizonte.
O cientista político Malcon Camargos, da PUC-MG, avalia que o PT mineiro aproveitou melhor o desejo difuso de mudança existente no país.
Para ele, o governo Dilma, também bem avaliado em Minas, enfrentou a mesma questão. "Mas se saiu melhor diante dessa dificuldade."
Camargos disse ainda acreditar que o simbolismo da vitória de Dilma em Minas no primeiro turno a tenha fortalecido para a segunda etapa no Estado --algo que também foi reforçado pelo marketing petista e o slogan anti-Aécio de "quem conhece não vota".
Para o presidente do PT-MG, Odair Cunha, as vitórias de Dilma e Pimentel em Minas se devem ao fato de a campanha do governador eleito ter abordado bem o legado tucano no Estado.
"Os resultados que entregaram é acanhado para o que sempre propagandearam. A campanha soube mostrar isso, e a Dilma se beneficiou."